Aplaudido de pé no Bundestag, a câmara baixa do Parlamento alemão, o presidente ucraniano Volodimir Zelenski prometeu nesta terça-feira (11/06) acabar com a guerra "no interesse da Ucrânia e de toda a Europa". "Não vamos permitir à Rússia que continue marchando pela Europa", assegurou, a poucos dias de uma cúpula de paz na Suíça. "Poremos fim a essa guerra nos nossos termos."
Em seu discurso, Zelenski disse ser "do interesse de todos nós que Putin perca essa guerra", e que o conflito precisa acabar de uma forma que não deixe dúvidas sobre quem ganhou.
O presidente defendeu ainda que Moscou pague pelos danos que causou à Ucrânia. "Eles têm que ser levados à Justiça por cada crime de guerra cometido."
Também apelou à memória da Guerra Fria, evocando o Muro de Berlim (1961-1989) e os conflitos com separatistas russos no leste ucraniano desde 2014. "A Europa dividida nunca foi pacífica. E a Alemanha dividida nunca foi feliz", afirmou. "Os senhores podem entender por que estamos lutando tanto contra as tentativas da Rússia de dividir a Ucrânia, por que estamos fazendo tudo o que podemos para impedir que haja um novo muro em nosso país."
As tropas de Kiev atualmente tentam deter o avanço russo em áreas no leste do país, como Kharkiv e Donetsk.
Ao argumentar que uma derrota russa não é tão improvável quanto alguns apregoam, Zelenski lembrou ainda a queda súbita do Muro de Berlim. "Para alguns, parecia que o muro duraria para sempre. Mas ele desapareceu", disse. "E agora, quando as pessoas gritam que Putin vai durar para sempre, e que não há fim a essa guerra (...), isso é uma ilusão."
"A Rússia está sozinha contra todos nós, então temos que forçar a Rússia a mudar, e isso é possível, porque não há muro que não possa ser derrubado", continuou.
Zelenski também agradeceu à Alemanha pelo fornecimento de três sistemas Patriot de defesa aérea e pela acolhida no país de 1,1 milhão de refugiados ucranianos.
Partidos populistas boicotam discurso
A fala de Zelenski foi boicotada pelas bancadas do ultradireitista Alternativa para a Alemanha (AfD) e da populista e recém-criada Aliança Sahra Wagenknecht (BWS). Os dois partidos criticam o apoio militar do Ocidente à Ucrânia, mas são minoritários: a AfD tem 77 cadeiras e a BSW, dez. Os únicos quatro parlamentares da AfD que assistiram ao discurso o ouviram em silêncio, sem aplausos.
A Alemanha é, depois dos Estados Unidos, o maior apoiador de Kiev.
Na campanha ao Parlamento Europeu, o BWS defendeu a interrupção do fornecimento de armas alemãs à Ucrânia e acusou Zelenski de fazer as pessoas de "bucha de canhão para uma guerra invencível, aceitando o risco de um "conflito atômico com consequências devastadoras para a Europa".
A AfD, que nas eleições europeias fez a segunda maior bancada de eurodeputados alemães, disse em um comunicado que não prestigiaria a sessão com Zelenski – que trajava um blusão preto e uma calça verde-escuro – porque se recusam "a ouvir um palestrante em roupa camuflada".
"A Ucrânia não precisa de um presidente de guerra agora; precisa de um presidente de paz, que esteja disposto a negociar, de modo que a matança cesse e o país tenha um futuro", consta da nota divulgada pela AfD.
"Os ucranianos não estão só defendendo o direito deles à liberdade; estão defendendo a ideia europeia de liberdade e paz. Então, se Putin ganhar na Ucrânia, ele não vai parar. É também do nosso interesse suprir a Ucrânia com dinheiro e também militarmente", contra-argumentou o ministro alemão da Economia, Robert Habeck, em entrevista à DW.
Mais cedo, participando de uma conferência sobre a reconstrução da Ucrânia, Zelenski se preocupado com a presença crescente de uma retórica pró-Rússia no meio político, especialmente depois que partidos de ultradireita conseguiram expandir seu espaço no Parlamento Europeu.
"Acho que a coisa mais importante é que o povo não escolheu a retórica populista pró-Rússia", disse. "Mas a retórica radical pró-Rússia é um perigo para os seus países."
Custo da reconstrução
Zelenski discursou no Parlamento alemão após participar de uma conferência em Berlim para arrecadar recursos para a defesa e a reconstrução da Ucrânia.
O evento, que continua na quarta-feira, reúne mais de 2 mil representantes de 60 países.
Segundo estimativa do Banco Mundial, somente na próxima década serão necessários 486 bilhões de dólares (R$ 2,6 trilhões) para reconstruir a Ucrânia.
O chanceler federal da Alemanha, Olaf Scholz, prometeu levar o tema ao encontro do G7 na Itália, a partir da próxima quinta-feira. "Não haverá uma vitória militar nem uma paz imposta", disse. "Ele [Putin] precisa parar sua campanha brutal e retirar suas tropas."
Por ora, foi acertado que a União Europeia (UE) entrará como fiadora de empréstimos a Ucrânia receberá no valor de mais de um bilhão de euros (R$ 5,8 bilhões), a serem repassados a pequenas e médias empresas, além de empréstimo de 100 milhões de euros (R$ 575,8 milhões) para a recuperação dos serviços de abastecimento.
Apoio internacional
É a terceira visita do líder ucraniano a Berlim desde o início da invasão russa, em fevereiro de 2022.
Na manhã desta terça, Zelenski foi recebido em Berlim no Palácio de Bellevue pelo presidente alemão, Frank-Walter Steinmeier.
A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, prometeu 1,9 bilhões de euros (R$ 10,9 bilhões) em socorro à Ucrânia para este mês. O dinheiro faz parte de um programa de apoio do bloco ao país com orçamento de 50 bilhões de euros (R$ 287,9 bilhões). Além disso, segundo ela, outros 1,5 bilhões de euros adicionais vindos de fundos russos congelados estarão disponíveis a partir de julho.
Von der Leyen afirmou ainda que conversas para a entrada da Ucrânia na UE devem começar ainda no fim deste mês.
ra (AFP, Reuters, dpa, ots)