Na sequência do golpe de Estado no Gabão levado a cabo em 30 de agosto, militares líderes do movimento anunciaram nesta quinta-feira (07/09) a nomeação de Raymond Ndong Sima, 68, para o cargo interino de primeiro-ministro.
Mais proeminente opositor do presidente deposto Ali Bongo Ondimba, 64, Sima deteve o mesmo cargo entre os anos de 2012 e 2014, durante o governo de Bongo, de quem se tornaria adversário ferrenho mais tarde.
Sima disputou as eleições contra Bongo em 2016 e 2023, mas foi mal votado na última delas. A vitória de Bongo foi questionada, ensejando o golpe militar.
Os militares do Gabão tentam transmitir a ideia de que agiram diante de uma vitória eleitoral altamente questionável de uma família que governou o país por décadas e que já havia se tornado alvo de protestos públicos.
Bongo comandava o país desde 2009 e, antes dele, por 42 anos essa função coube ao pai dele, Omar Bongo.
Plano de retorno a um governo diplomático
A Comunidade Econômica dos Estados da África Central (ECCAS), que suspendeu o Gabão no início desta semana devido ao golpe, enviou o presidente da República Centro-Africana, Faustin Archange Touadera, a Libreville para conversar com o líder do golpistas, o general Brice Oligui Nguema.
Segundo uma fonte do bloco ouvida pela agência de notícias AFP, Touadera e Nguema concordaram em traçar um "roteiro" para o retorno a um governo diplomático.
Sob a liderança de Nguema, os militares tomaram o poder e anularam a eleição presidencial minutos após Bongo ser declarado vencedor do pleito. Dias depois, na segunda, o próprio Nguema foi empossado presidente.
Na quarta, um porta-voz da junta militar declarou na TV estatal que, "dado seu estado de saúde", Bongo estava livre para viajar ao exterior para tratamentos médicos, caso desejasse.
O grupo não deu detalhes sobre o estado de saúde do político, que é mantido em prisão domiciliar desde o golpe, mas o representante das Nações Unidas (ONU) para a África Central, Abdou Abarry, assegurou a jornalistas tê-lo encontrado em "boa saúde".
Nações Unidas oferecem ajuda com transição de governo
Abarry esteve em Libreville na quarta, onde reuniu-se também com Nguema para oferecer apoio da ONU para que o país volte à ordem constitucional.
"Por princípio, as Nações Unidas, tal como outras organizações internacionais, condenam as mudanças inconstitucionais de poder", afirmou Abarry, após deixar a reunião. "Assim que conhecermos o roteiro, o cronograma; assim que um governo for nomeado, nossas diferentes agências farão os contatos necessários e continuarão a apoiar o Gabão."
Rico em petróleo e urânio, o Gabão se juntou, com o golpe, a uma série de outros países na África Ocidental e Central que depuseram governos violentamente em anos recentes: só de 2020 a 2022 foram 11; neste ano, Níger e Gabão fizeram a lista ir a 13.
No caso do Níger, a junta militar depôs o presidente eleito Mohamed Bazoum em julho, anunciando mais tarde a intenção de processá-lo e julgá-lo por traição. Os golpistas deram sinais de hostilidade em relação a países do Ocidente – especialmente a França, que colonizou o país no passado, assim como colonizou o Gabão –, ao mesmo tempo em que se aproximaram da Rússia.
ra (DW, AFP)