A jovem baleada na cabeça durante uma abordagem da Polícia Rodoviária Federal na véspera de Natal não tem sinais de sequelas irreversíveis. É o que aponta o boletim médico de Juliana Leite Rangel, divulgado nesta terça-feira (7) pelo Hospital Adão Pereira Nunes, onde ela está internada desde que foi ferida.
O boletim médico informa que ela tem bom estado geral e mantém melhora progressiva. A direção do hospital pontua que ela respira através de traqueostomia, em ar ambiente. "O suporte da ventilação mecânica foi totalmente retirado de maneira definitiva, realizando fisioterapia respiratória sem auxilio de aparelhos", informa a nota.
Do ponto de vista neurológico, Juliana progride o nível de consciência, com melhora clínica e recuperando funções motoras e cognitivas, sem sinais de sequelas. Por isso, ela já iniciou o processo de reabilitação. Apesar da melhora, ela não tem previsão de alta da UTI.
Relembre o caso
A jovem estava no carro da família com o pai, a mãe, o irmão e cunhada a caminho de uma festa de Natal em Niterói, quando os policiais dispararam em série contra o veículo. Um tiro, provavelmente de fuzil, feito a partir de uma viatura da PRF, atingiu a lateral esquerda do crânio da paciente.
Com o impacto do projétil, fragmentos da caixa craniana entraram no cérebro e uma cirurgia foi necessária para removê-los.
No dia 25, o Ministério Público Federal (MPF) instaurou um procedimento investigatório criminal para apurar a conduta dos agentes da PRF. No procedimento, o MPF pede que as viaturas que estavam na abordagem sejam recolhidas, assim como as armas dos policiais, e que a PF informe o que já foi apurado sobre o caso.
Pede ainda que sejam informadas as medidas de assistência prestadas pela PRF à família de Juliana. A Polícia Federal também investiga o caso.
O pai de Juliana, Alexandre Rangel, disse ao Estadão que dirigia o carro quando, ao avistar a viatura da PRF, abriu passagem para o veículo passar. No entanto, os agentes começaram a atirar contra a família.
"Não deram ordem de parada, não deram nada. Eu percebi que era tiro quando estilhaçou o vidro do carro. Eu pedi para os meus filhos e para a namorada do meu filho adolescente se agacharem e ficarem deitados no assoalho. Eles continuaram metendo tiro, mais de 30. De fuzil, pistola", disse.
Alexandre também foi atingido por um tiro no dedo. Ele se deitou para se proteger, mas continuou dirigindo o veículo para o acostamento, mesmo sem enxergar a pista. "Eu falei que 'aqui tem família, aqui tem família'. Eles falaram: 'Vocês atiraram na gente'. Eu falei: 'Nem arma eu tenho. Como eu vou atirar em vocês se nem arma eu tenho? Eu só tenho família."
Em nota, a PRF informou que os agentes - dois homens e uma mulher - envolvidos no caso foram afastados preventivamente das atividades operacionais. O órgão lamentou profundamente o episódio e disse que presta assistência à família. A PRF abriu um procedimento interno, em Brasília, para apurar as circunstâncias do ocorrido.