Os funcionários do salão que Monique Medeiros frequentava foram ouvidos pela Policia Civil nesta quarta-feira (14). No depoimento, eles contaram que presenciaram uma ligação de vídeo entre Henry Borel e a mãe, onde o menino afirmava que estava machucado e com dor, e ainda questionava para a mãe “se ele atrapalhava a vida dela”.
Em testemunho dado na última terça, a baba Thayná de Oliveira contou que essa era uma das maldades que Jairinho fazia com o menino: acusá-lo de atrapalhar a vida da mãe. As informações são de Laila Hallack e Yasmin Bachour, no Jornal da Noite.
Enquanto Monique estava hidratando os cabelos no lavatório, ele ainda teria dito “Mamãe, vem pra casa", mas a cabelereira não se recorda ao certo se Henry relatou para Monique “o tio bateu” ou “o tio brigou”. Dez minutos depois, já na cadeira para a escova, a profissional presenciou a briga ao telefone com Jairinho. Aos berros, ela teria dito “quebra, pode quebrar tudo mesmo, você já está acostumado a fazer isso”.
No depoimento, a funcionária disse que após o fim da ligação, Monique perguntou a ela se havia alguma loja no shopping que vendia câmeras.
A equipe do salão ainda confirmou a versão de que Monique foi ao salão no dia seguinte à morte do menino para fazer cabelo e unha, no valor de R$ 240.
Monique Medeiros pode ser ouvida novamente pela polícia, após pedido de seus novos advogados. A defesa alegou que Monique quer contar a verdade e falar de “forma isenta”.
“A estratégia que a defesa tem é única e exclusivamente uma: que a Monique diga a verdade”, disse o novo advogado da professora, Hugo Morais.
Até o começo da semana, era o advogado André França Barreto que cuidava da defesa da mãe de Henry. Foi com a orientação dele que ela prestou o primeiro depoimento, há cerca de um mês. Ela disse acreditar que o garoto tinha sofrido um acidente ao cair da cama.
Barreto também deixou de representar Jairinho nesta quarta, alegando querer evitar “eventuais conflitos de interesses”.
Agora, a nova equipe de advogados alega que Monique estava sendo oprimida quando prestou depoimento.
“Por incrível que pareça, a situação é tão trágica que a prisão de Monique representa a sua libertação contra a opressão e o medo. Então deixe a Monique falar”, pediu Thaise Assad, que também integra a defesa da professora.
Embora Jairinho tenha também um histórico de acusações de ex-mulheres por agressão, a polícia, até agora, não tem elementos que apontem que ele tenha ameaçado Monique para que ela não denunciasse as sessões de tortura a que o filho teria sido submetido pelo companheiro. Na avaliação dos investigadores, ela teve chance de contar a verdade quando veio à delegacia.
A hipótese de acidente já foi descartada. Os peritos cravam que o menino de 4 anos foi agredido até a morte no dia 8 de março. 23 lesões foram encontradas no corpo do garoto. De acordo com o laudo, a sessão de tortura durou cerca de quatro horas.
Especialistas acreditam que o garoto pode ter morrido por volta das 23h - quase cinco horas antes de ser levado ao hospital. Eles chegaram à conclusão depois da divulgação das imagens da câmera do elevador, que mostram o casal levando o menino, já morto, para o hospital, por volta das 4h10.
Faxineira e irmã de Jairinho depuseram
A faxineira do vereador Jairinho e da professora Monique Medeiros afirma que estranhou quando Henry Borel saiu mancando do quarto onde estava com o político, no dia 12 de fevereiro. Leila Rosângela de Souza Mattos prestou novo depoimento à Polícia Civil, nesta quarta (14), por ter sido supostamente orientada a mentir quando foi ouvida no dia 23 de março, segundo a babá do casal.
Ao ser questionada pelos investigadores sobre o motivo de ter omitido detalhes no primeiro depoimento, a faxineira disse que havia se esquecido dos fatos, mas negou ter qualquer tipo de problema de memória ou fazer uso de remédios controlados.
Desta vez, a faxineira assumiu que presenciou o episódio do dia 12 de fevereiro, narrado em tempo real pela babá, Thayná de Oliveira, à Monique Medeiros, em trocas de mensagens pelo celular com Monique.
Alguns detalhes chamaram a atenção dos investigadores. Um deles foi o fato de a funcionária dizer que Monique e Jairinho tomavam muitos remédios. E que a mãe do menino também dava para Henry, três vezes ao dia, medicamentos para ansiedade e um xarope de maracujá. De acordo com a funcionária, Monique dizia que Henry “passava muito tempo acordado”.
Questionada sobre como era o comportamento de Henry, a faxineira afirmou que ele chorava o tempo todo e vomitava de vez em quando. Mas não sabia falar em detalhes o porquê isso acontecia. Leila Rosângela narrou ainda que durante um dos episódios de choro de Henry, Monique chegou a dizer que ele era muito mimado, e que se ele continuasse chorando à toa, o levaria para morar com o pai.
Já a irmã do vereador Jairinho, Thalita Fernandes Santos também prestou depoimento nesta quarta. Ela foi citada 21 vezes no depoimento da baba de Henry, que afirmou ter sido coagida por ela a não depor contra o vereador.
Segundo Thayná, ela também teria usado frases como "não vai dar uma de juíza do meu irmão". Além disso, Thalita fez uma festa de aniversário horas depois da morte do garoto.
Jairinho é vereador do Rio de Janeiro e era padrasto da criança, que morreu em 8 de março. Na última quinta-feira (8), ele e a mãe de Henry, Monique Medeiros, foram presos temporariamente. O casal é investigado sob suspeita de homicídio duplamente qualificado (com emprego de tortura e sem chance de defesa à vítima) e de atrapalhar as investigações e ameaçar testemunhas do caso.