Novos detalhes de um plano de golpe de estado depois das eleições. É o que revela a quebra de sigilo do telefone do ex-ajudante de ordens de Bolsonaro. O documento recebeu o nome de "Forças Armadas como Poder Moderador" e estava no celular do tenente-coronel Mauro Cid desde outubro do ano passado. O plano tem oito passos:
- Nomeação de um interventor federal.
- Fixação de um prazo para restabelecimento do que é chamado de "Ordem Constitucional".
- Definição da Polícia Federal e da Polícia Rodoviária Federal como subordinadas ao interventor;
- Suspensão de atos do poder judiciário e afastamento de ministros.
- Abertura de inquérito para investigar os ministros afastados.
- Autorização para suspender atos considerados inconstitucionais praticados pelo judiciário.
- Substituição dos ministros do TSE afastados.
- Definição de prazo para a realização de novas eleições.
O plano necessitava de apoio das Forças Armadas e previa até a decretação de estado de sítio. Um dos maiores entusiastas do enredo é o coronel Jean Lawand Junior, do escritório de projetos estratégicos do estado-maior do Exército. Ele troca dezenas de mensagens com o então ajudante de ordens de Bolsonaro. Em uma das conversas ele diz:
Coronel Jean Lawand Jr.
- "Cidão, pelo amor de Deus, cara. Ele dê a ordem que o povo tá com ele. Ele não tem nada a perder. O presidente vai ser preso. E pior, na Papuda, cara."
Tenente-coronel Mauro Cid
- "Mas o PR não pode dar uma ordem... se ele não confia no Alto Comando do Exército.
Coronel Jean Lawand Jr.
- "Então ferrou... Vai ter que ser pelo povo mesmo."
A Polícia Federal identificou ainda vídeos e posicionamentos do jurista Ives Granda Martins a respeito da aplicação do artigo 142 da Constituição Federal e o 'papel das Forças Armadas com poder moderador'. O que indicaria que o grupo buscava suporte jurídico para executar o golpe.
A PF não encontrou nenhum registro comprovando que Bolsonaro recebeu o documento propondo um golpe de estado. O que a investigação quer saber é se o ex-presidente e os militares trataram do assunto pessoalmente.
Nesta sexta-feira, Lula convocou o ministro da Defesa, José Mucio Monteiro, e o comandante do Exército, General Tomas Paiva. O presidente determinou que o coronel Lawand não seja mais o representante militar do brasil em Washington, nos estados unidos, e quer que o militar seja investigado aqui no país. Lula ainda pediu uma "varredura” nas Forças Armadas, para detectar se outros militares compactuavam com o plano.
Em nota, o Exército afirma que "opiniões e comentários pessoais não representam o pensamento da cadeia de comando do Exército Brasileiro" que medidas administrativas já estão sendo tomadas e condutas julgadas irregulares serão tratadas pela justiça."
A defesa de Bolsonaro afirmou que as conversas mostram que o ex-presidente jamais tratou sobre golpe.