O gás já está caro. Mas nas favelas do Rio de Janeiro, o preço é ainda mais alto por causa do crime organizado.
Cerca de 90% dos brasileiros usam o botijão de gás para cozinhar. Mas são os mais pobres que pagam mais caro na capital fluminense.
Além de sofrerem com a inflação - alta de quase 40% desde o início do ano - os moradores de comunidades ainda são obrigados a comprar de revendedores clandestinos que repassam parte dos valores para traficantes dentro da favela. Eles chegam a cobrar 30% a mais pelo botijão. Uma prática que, mesmo conhecida, não sofre repressão.
Para comprovar, a reportagem do Jornal da Band ligou para um revendedor autorizado e pediu a entrega do botijão no morro do Andaraí, comunidade da zona norte do Rio.
Jornal da Band: “Quanto está o valor do gás?”
Revendedora: “90”.
Jornal da Band: “Entrega na rua Andaraí? Perto da UPP [Unidade de Polícia Pacificadora]”.
Revendedora: “Senhor, infelizmente nós não podemos entregar. É área fechada”.
A reportagem também contatou a única pessoa que pode vender o botijão na comunidade, por até R$ 25 a mais (ouça no vídeo acima).
Revendedor clandestino: “Tá 105 no dinheiro. Pix é o mesmo preço, mas se for cartão de crédito ou débito é 115”.
Jornal da Band: “Eu vou tentar outro lugar e aí eu te ligo então”.
Revendedor clandestino: “Tá bom” [risos].
Jornal da Band: “Você acha que eu consigo?”
Revendedor clandestino: “Acho que não”.
A prática se repete na maioria das favelas cariocas. São cerca de 3,5 milhões de moradores que vivem sob domínio do tráfico e da milícia.