Com tiros, o Talibã voltou a reprimir manifestações contrárias à volta do grupo radical ao poder no Afeganistão, nesta quinta-feira (19).
Esses são os primeiros sinais de resistência. Afegãos exibindo nas ruas de várias cidades a bandeira tradicional do país. Ocupar as ruas com as cores do Afeganistão é uma forma de protestar contra o Talibã, que insiste em adotar a bandeira própria, com predominância branca.
As manifestações acontecem numa data repleta de simbolismo: o dia da Independência. São 102 anos desde que o Afeganistão passou a ser reconhecido pelo então império britânico após tratado de 1919.
Mas há pouca paciência para atos democráticos. O Talibã abriu fogo contra os civis. Há relatos de mortos na cidade de Asababad, mas os números não foram divulgados. Informações precisas são cada vez mais difíceis de se conseguir.
Talibã altera nome oficial do país; países aceleram resgates de estrangeiros
Nesta quinta, uma das principais lideranças do grupo deu mais detalhes de como será o governo a partir de agora. Segundo Waheedullah Hashimi explicou que tudo será definido por um conselho, sem traços de democracia. A inspiração é a Sharia, a tradicional lei islâmica, segundo a interpretação radical do grupo extremista.
Também foi anunciado a mudança na bandeira e nome oficial do país: foi declarado o Emirado Islâmico do Afeganistão - o mesmo usado quando o grupo chegou ao poder pela primeira vez, em 1996.
As mulheres serão as mais afetadas e devem perder direitos básicos, como acesso ao estudo, ao trabalho e de sair de casa desacompanhadas de um homem da família.
Um documento da ONU revelou que o Talibã intensificou a caçada a pessoas que trabalharam para o exército americano e outras forças internacionais, contrariando as promessas do grupo de que não haveria perseguição. Muitos sabem que, se ficarem no país, serão mortos e tentam fugir a todo custo.
Diversos países estão fazendo resgates. O primeiro avião com afegãos desembarcou nesta quinta no Reino Unido. Serão 5 mil refugiados até o final do ano. Já a Espanha montou um abrigo pra 800 pessoas na base militar de Madri. Outros governos da União Europeia também se preparam para receber aqueles que fogem do Talibã.
Cenas no aeroporto de Cabul ilustram o desespero, onde mães têm entregado filhos pequenos a soldados estrangeiros. Depositam na mão de um desconhecido a esperança de que eles possam ter um futuro melhor.