O Jornal da Band exibiu, neste sábado (15), a terceira e última reportagem da série especial “Corrida pela Vida”. Entre histórias de quem recebeu um órgão e da força-tarefa para as captações, a repórter Amanda Martins mostrou o antes, durante e depois da cirurgia do zelador Aparecido Vieira. Acometido pela cirrose, só um transplante de fígado salvaria a vida dele.
O doador foi fácil de encontrar, a filha Bruna Vieira. Ambos foram para a sala de cirurgia para as operações simultâneas em que participaram ao menos sete cirurgiões. Sete dias após o transplante, ambos tiveram alta e partiram para o tão esperado recomeço.
A gente tem pai, mãe e fala: ‘Eu dou a vida pelo meu pai’. A gente dá, mas tem hora que, de fato, acontece (Bruna Vieira)
Bom para eu ir para a minha casa com minha filha e continuar a nossa vida. Só coisa boa daqui para frente (Aparecido Vieira)
Apesar da alta, Aparecido continua com o acompanhamento da equipe médica. Bruna já se recuperou da cirurgia e voltou a trabalhar. Agora, ambos precisam seguir o tratamento médico e terem uma alimentação saudável, o que fortalecerá o sistema imunológico para evitar a rejeição.
Maior sistema do mundo
O Brasil tem o maior sistema público de transplante de órgãos de todo mundo. A estrutura é gerenciada pelo Ministério da Saúde, que garante que 90% das cirurgias sejam feitas por meio do Sistema Único de Saúde (SUS). Tal gerenciamento integra as 27 centrais estaduais do país.
Segundo o Ministério da Saúde, hoje, há 617 hospitais e 1.495 equipes autorizados a realizarem transplantes no Brasil. Uma delas é liderada pelo médico Lúcio Pacheco, especialista em transplante de fígado.
O médico que foi para a fila
Em 2020, ao descobrir um tumor no fígado, Pacheco foi para a fila do transplante. Cinco meses depois, entrou para a sala de cirurgia, mas não como doutor, como de costume. Naquele momento, ele foi paciente.
Viver isso foi extremamente importante para mim para ver o quão difícil é essa espera. Doar órgãos é uma coisa muito legal. Se todas as pessoas tivessem a chance de ver como uma pessoa fica e como muda a vida da pessoa transplantada, as pessoas iam doar órgão com mais vontade ainda (Lúcio Pacheco)
Amor de mãe e filha
Entrar na fila não foi uma opção para a confeiteira Elizabeth Kastrupp. A legislação brasileira não permite que pacientes com colangiocarcinoma, um câncer raro no fígado, recebam o órgão de doador falecido. A solução foi um doador vivo. Foi a primeira vez que o transplante foi usado como tratamento para a doença no Brasil. Há cinco meses, a filha doou 65% do fígado para a mãe.
Eu, como mãe, fiquei muito doída porque eu sabia que ela nunca tinha feito nenhuma cirurgia. Era uma coisa nova. Eu sei o que é um pós-operatório, e ela é uma menina com saúde perfeita, crossfiteira, saudável, bonitinha. Eu fiquei: ‘Gente, vai cortar a barriguinha dela’. Fiquei doída (Elizabeth)
A cicatriz até já chegou a ser uma questão para Júlia Kastrupp, filha da Elizabeth, mas isso ficou no passado. A marca, hoje, simboliza uma nova vida dada à mãe.
É a nossa história. Eu não tenho como olhar para ela não me sentir bem, ainda mais hoje, com a notícia de ela estar 100% curada, saudável. Ela está trabalhando. Eu não tenho como olhar e ficar insegura, triste (Júlia Kastrupp)
De volta ao cotidiano
Quem ainda, na fila, aguarda por um órgão ou está em recuperação pós-transplante vive um dia de cada vez. Devido a isso, situações do cotidiano, como caminhar ou ler um livro, para os pacientes, são grandes esforços.
Eu voltei a jogar futebol. Eu me sinto melhor para fazer as atividades (Othon Junior)