Atualmente com 217 mil habitantes e uma das 10 cidades mais populosas do Rio Grande do Sul, São Leopoldo foi a porta de entrada para os alemães. Pelo Rio dos Sinos, chegaram os primeiros 39 imigrantes, há 200 anos atrás, recrutados pelo major Georg Anton Von Schaeffer, enviado especial da Imperatriz Leopoldina, esposa de D. Pedro I.
Na cidade, há um monumento que marca o local do desembarque, em 25 de julho de 1824 e até uma casa, que era sede de uma fazenda de produção de cordas para navios, onde os imigrantes ficaram até que receberam lotes cedidos pelo Império Brasileiro.
A construção, tombada pelo Instituto de Patrimônio Artístico do Rio Grande do Sul, era até a última década apenas um museu e ponto turístico, mas está fechada desde que parte do prédio desabou. O museu guarda imagens, documentos e objetos.
Às vésperas da celebração dos 200 anos da imigração alemã, o museu se mostrou resistente aos desafios da história, após passar pela maior enchente do Rio dos Sinos, em maio deste ano. Funcionários e voluntários trabalharam sem parar para reabri-lo para a celebração do bicentenário.
Colonização alemã atingiu outras cidades do Rio Grande do Sul
30 anos após a chegada dos primeiros imigrantes alemães, começava a colonização de outra cidade: Nova Petrópolis. Uma das principais marcas da imigração alemã na região é vista na arquitetura, com a técnica Enxaimel.
As construções, sem pregos, são feitas com madeiras encaixadas umas nas outras, como um quebra-cabeça. Assim, elas sustentam as paredes de pedras e já resistem há quase dois séculos. Uma razão é o tipo da madeira, como diz Lediane Werner, gerente do parque Aldeira do Imigrante.
"Possivelmente seja madeira de araucária, que resistiu todo esse tempo sem qualquer tratamento, que Brasil tem oferta de madeira. Ou trecho mais resgate histórico", indica.
Descendente de uma das primeiras famílias de imigrantes que chegaram na região, Clóvis Schumann faz questão de preservar a história dos antepassados. "Amor pela etnia e cultura, mantenho de geração em geração, e espero que meus filhos e netos continuem", diz Schumann, que é dono de uma pousada na cidade.
No local, receitas de família como cuca, linguiça, bolo de requeijão e o famoso waffle são oferecidos para receber os hóspedes da pousada. O sabor do passado conquista os viajantes e emociona os que seguem o legado da família, como afirma Débora Schumann. "Eles comem e se remetem à infância, dizem 'que saudade de minha avó', e isso emociona a gente", diz.
Imigrantes alemães saíram da região de Gehlweiler
Em Gehlweiler, os primeiros alemães que vieram ao Brasil ainda são lembrados. Casas preservadas dão exemplo de como era a vida das famílias na época, que buscavam novas oportunidades.
A recepção aos primeiros imigrantes vindos de lá se deu de formas diferentes pelo Brasil. No Rio Grande do Sul, cada família ganhou uma área de 25 quilômetros quadrados, já em São Paulo, um lote de 2 quilômetros quadrados, equivalente a um quarto de campo de futebol.
Os imigrantes alemães também formaram colônias em Santa Catarina, Paraná, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Espírito Santo e Bahia. Na capital paulista, a maioria se instalou na região de Santo Amaro. É o que explica a historiadora Silvia Cristina Siriani. "São Paulo, em torno de 1840, tinha em torno de 30 mil habitantes, e mais de 3 mil e 500 eram alemães. 10% da população. Naquele momento, não dava para ignorá-los na paisagem urbana", pontua.