Na segunda reportagem da série especial do Jornal da Band, você vai ver que chamar a atenção da imprensa foi uma das estratégias usadas na Semana de Arte Moderna de 22.
Apesar do nome, a Semana de Arte Moderna teve apenas três dias de programação: 13, 15 e 17 de fevereiro de 1922.
Entre as atrações, havia música, declamação de poema e artes plásticas através de quadros, esculturas e maquetes de arquitetura.
Para participar, a regra era uma só: não ter regra. Os modernistas queriam romper com as tradições culturais que vigoravam tanto na literatura, quando nas artes.
Logo na entrada do Municipal, o público já tinha contato com cem obras de arte expostas. A maior parte eram quadros de Anita Malfatti, muita coisa do Brecheret e Di Cavalcanti. Isso era admiração para alguns, mas estranhamento para outros.
“A pessoa que vai ver uma obra dessa ela olha a obra e acha que a pintura está, entre aspas, mal feita, porque não tem noção de profundidade, porque as regras da academia, as regras mais clássicas estão longe de ser usadas, ao contrário. A ideia era se desfazer de regras e cada um pintar a sua maneira”, explica Regina Teixeira de Barros, doutora em estética e história da arte.
O público não gostou da novidade. Edgar Moretti retrata os bastidores em 50 obras na exposição “Diálogos Centenários”, em cartaz no Centro Cultural dos Correios, em São Paulo (SP).
“A Renata Crespi, estranhou a deformidade do quadro, a forma moderna como Anita Malfatti trabalhou e ela questionou o Menotti Del Picchia, e falou ‘mas seu Menotti esse quadro não está torto, ele não está mal feito? Ele falou não senhora esse quadro foi feito pela grande artista paulistana Anita Malfati e ela produziu esse quadro sobre a influência de um terremoto que teve há poucos dias. Como se essa forma de pintar fosse efeito do terremoto e não do modernismo? Exatamente”, explicou Edgar Moretti.
A má vontade com Anita Malfatti já vinha de outros carnavais e tinha respaldo na imprensa. Em 1917, “O Homem Amarelo”, que entrou para a história como um dos principais trabalhos de Anita na Semana de 22, causou estranhamento.
Hoje, a obra pode ser vista na exposição “Era Uma Vez o Moderno”, na galeria de arte do Centro Cultural Fiesp.
“Anita chega a vender algumas obras, mas aí quando vem a crítica do Monteiro Lobato, que era respeitadíssimo, e era uma crítica devastadora, inclusive as obras que ela tinha vendido são devolvidas, os compradores não querem mais levar e aí a carreira dela é inevitavelmente afetada”, disse Luiz Armando Bagolin, curador da mostra
Mas felizmente, Monteiro Lobato estava errado, como explica Luiz Armando Bagolin.
“O Mário aparece em um dia de chuva, ele aparece ensopado na exposição de Anita diante do homem amarelo e dando gargalhadas, rindo. Não falou nada, sorria. Dias depois ele volta recomposto, entrega um cartão de visita a ela e se apresenta, diz: “Sou Mário de Andrade, sou poeta esse quadro já é meu um dia eu vou vir buscá-lo”.
Hoje, 100 anos depois da Semana de Arte Moderna de 22, os muros de São Paulo são telas para grafiteiros.
O grito das ruas dá visibilidade aos novos artistas, exatamente como aconteceu 100 anos atrás, quando os modernistas descobriram que, para chamar atenção, além da arte, era preciso fazer barulho.
“Primeiro, logo no início não teve grande importância, a própria imprensa pouco noticiou evento a não ser depois da jogada de marketing genial do Oswaldo de Andrade, que chamou os estudantes de direito do Largo São Francisco para ocupar os lugares mais altos e mais baratos do Teatro Municipal para vaiar e assim dar o tom do contra. Ele sabia que aquilo balançaria a impressa? Certamente. Então aqueles veículos de comunicação que até então tinha ignorado a Semana de 22 foram obrigados a noticiar nem que fosse pra falar mal”, disse Márcia Camargo, que é historiadora e autora do livro “Semana de 22: Entre Vaias e Aplausos.