Recomeçar é possível: dependentes de crack conseguem tratamento do Estado

Dependência química é devastadora, mas intervenções do poder público salvaram a vida de de Jaziel Cruz; conheça a história

Por Juliano Dip

O problema do crack é crônico em São Paulo. As cenas de traficantes e dependentes químicos andando pela região central da capital paulista é rotineira desde 1990. A Cracolândia, agora espalhada por diversos bairros, é composta não só da droga, como também de diversas pessoas, cada um com sua história. E a maioria não queria estar ali. 

Mas, apesar do crack ser uma droga devastadora, é possível se livrar dele. Com o auxílio do poder público, muitos dependentes químicos têm uma segunda chance e saem das ruas devido às intervenções e tratamentos gratuitos. É o caso de Jaziel Cruz, que há pouco tempo se livrou do vício no crack. 

Na entrevista ao Jornal da Band, fazia apenas um mês que Jaziel havia saído da Cracolândia. Aos 40 anos, ele aceitou o convite de um agente de saúde vestido de palhaço para começar o tratamento. Para ele, o personagem despertou a criança escondida em 28 anos de dependência química. 

“Parei com tudo. Eu estava assim, a gente fazia dívida e nós vamos ficando escravos dessa situação. É o caso da minha amiga, louca para se internar, mas devido à dívida que ela tem com medo de não sobreviver mais, ela vai pagar”, lamenta. 

Foi esse pesadelo que Jaziel fugiu quando entrou pela primeira vez no ‘Hub de Cuidado com Crack e outras Drogas’, o antigo ‘Centro de Referência de Álcool e outras Drogas’ do governo do estado de São Paulo, reinaugurado em abril. O diretor do Hub, Quirino Cordeiro, explica as diferentes frentes para tratar dependentes químicos. 

“É um trabalho de ampliar o acesso das pessoas a uma vaga de internação. Em geral, comunidades terapêuticas, hospital para que as pessoas nos procurem, possam acessar esse serviço. É importante porque infelizmente no passado a oferta de cuidado era negligenciada, com a ideia de que essas pessoas poderiam sair do submundo das drogas sem internação”, explica Quirino. 

20 dias após Jaziel chegar no Hub, ele já está em uma casa e, até receber alta, ele deve passar por quatro casas dentro do programa de ação conjunta entre governo do estado e prefeitura. Todas as moradias ficam em São Paulo, longe da Cracolândia, para afastar pacientes da região de consumo da droga. 

Segundo Liana Borges, coordenadora de políticas sobre drogas, esse período depende de cada indivíduo. “Como é crônico viver em situação de rua, há pessoas que ficam 30 dias, outras 60 e até mais, porque essa é a fase do acolhimento”, afirma.

“Nós vamos ensinar a trabalhar a autonomia do corpo, tomar banho, se cuidar. O pedagogo também vai analisar se há deficiências cognitivas em decorrência do uso da droga e a partir disso como vai se relacionar”, diz Liana Borges. 

Jaziel está na segunda fase do tratamento, em que ganha autonomia para estudar e administrar o próprio dinheiro. “Com o meu Bolsa Família, consigo ajudar até minha mãe. Antes, R$ 400 reais não durava um dia na minha mão. Hoje estão ensinando a fazer investimento, conta, daqui a pouco a pagar meu aluguel. Querem que eu seja independente", celebra. 

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