Lula não deverá se desculpar. Segundo o governo, as críticas focam em Israel e Netanyahu e não no povo judeu. O embaixador brasileiro em Tel Aviv foi chamado de volta para consultas.
Lula chamou o principal assessor internacional e conselheiros políticos para uma reunião de emergência no Palácio da Alvorada. O presidente, Celso Amorim e o ministro da Secretaria de Comunicação, Paulo Pimenta, analisaram a exigência do governo de Israel de um pedido formal e público de desculpas.
Mas isso não vai acontecer. O Planalto classificou como "exagerada" a reação de Israel, que transformou Lula em "persona non grata" no país. Seria uma maneira, segundo assessores, de Benjamin Netanyahu diminuir a pressão interna e ganhar apoio. Por isso, a versão do governo é de que a fala de Lula se dirigia ao governo israelense e não ao povo judeu.
Lula também decidiu chamar de volta o embaixador brasileiro em Israel para consultas. Na linguagem diplomática isso deixa clara a insatisfação com Tel Aviv. Segundo o Planalto, Frederico Meyer foi humilhado ao receber uma reprimenda pública fora do protocolo.
O representante brasileiro foi chamado ao Museu do Holocausto para dar explicações sobre a declaração do presidente, e não ao gabinete do chanceler, como é praxe. Para que, de acordo com Israel Katz, "testemunhasse o que os nazistas fizeram aos judeus". O Itamaraty classificou nos bastidores o ato como "um show desnecessário".
No fim da tarde o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, se reuniu com o embaixador israelense no Brasil, Daniel Zonshine, no Palácio do Itamaraty, no Rio de Janeiro.
Repercussão
A fala de Lula foi muito criticada por entidades israelitas. Em nota, a Conib - Confederação Israelita do Brasil, disse que o governo brasileiro vem adotando uma postura extrema e desequilibrada em relação ao trágico conflito no Oriente Médio, abandonando a tradição de equilíbrio e busca de diálogo da política externa brasileira.
O presidente da Federação Israelita de São Paulo diz que há um aumento do antissemitismo no Brasil.
Oposição quer impeachment
A polêmica agitou o Congresso. Deputados de oposição e até de partidos que integram o governo, assinaram um pedido de impeachment de Lula, por um suposto "ato de hostilidade contra nação estrangeira".
A fala de Lula foi avaliada pelo mundo político em Brasília como um verdadeiro desastre. Tira foco das investigações sobre o bolsonarismo e a tentativa de golpe. E ainda põe força nos grupos evangélicos apoiadores de Israel, para o ato político que está sendo convocado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro.