Pesquisa sobre racismo: 84% veem Brasil como país preconceituoso

Levantamento também mostra que brancos ganham em média 76% mais que os negros

Da Redação, com Jornal da Band

Nelson Lopes da Cunha, que no momento faz bicos como pintor, viveu episódios de racismo em toda sua trajetória profissional. Um de seus últimos trabalhos foi como motorista de aplicativo, mas ele abandonou a profissão depois de sofrer ofensas racistas de dois clientes no mesmo dia.

“Uma senhora branca (estava) com uma moça, e a senhora falou: ‘Eu não entro no carro desse preto’”, lembra Nelson. “Desliguei o aplicativo e fui embora. Naquele dia, não trabalhei mais. Fiquei com essa sensação de impunidade.”

Um levantamento realizado pelo Instituto Locomotiva divulgado nesta quarta-feira (28) mostra que 69% dos brasileiros pretos já foram discriminados em lojas, restaurantes ou supermercados. E 52% dos trabalhadores pretos já sofreram preconceito no próprio ambiente de trabalho. O estudo também mostra que os brancos ganham em média 76% mais que os negros.

“Então, rever o que a gente entende por meritocracia e critérios de promoção, a gente precisa entender que é mandatório. Eu não estou falando de baixar a régua para a gente escolher candidatos. Eu estou falando de olhar com intencionalidade para o que a gente quer como organização”, analisou Ana Bavon, consultora em diversidade.

A pesquisa apontou ainda que mais de 70% dos brasileiros têm chefes brancos, o que retrata a cultura das empresas de não promover funcionários negros para cargos de gestão e liderança.

O estudo aponta ainda que nove em cada dez consumidores preferem marcas que respeitam a diversidade racial.

“Uma empresa que de fato esteja comprometida não apenas com inclusão, mas com a luta antirracista, tem que ser capaz de, ao mesmo tempo, treinar os seus funcionários para o combate ao racismo, mas também proteger os seus funcionários que dia a dia sofrem com falas racistas dos consumidores finais que entram dentro dessas lojas”, explicou Renato Meirelles, presidente do Instituto Locomotiva.

Carrefour

O estudo foi apresentado durante um fórum online organizado pelo Carrefour, que contou com a participação de diretores de empresas especialistas no combate ao racismo.

Durante o evento, a rede de supermercados anunciou que está incluindo uma cláusula antirracista em todos os contratos firmados com outras empresas. Ou seja: todo fornecedor que quiser vender um produto ou prestar um serviço para a rede terá que garantir que ninguém de sua equipe terá uma postura racista.

O Carrefour ampliou as ações antirracismo depois que um cliente negro, João Alberto Freitas, foi morto por seguranças terceirizados de uma unidade de Porto Alegre em novembro de 2020.

“A medida em que a gente conversa com a nossa população interna, e toda nossa população interna se mobiliza, nós somos então 95 mil agentes contra o racismo. Cada um desses conversa com outras três, quatro pessoas. Somos 400 mil pessoas. Esse é o nosso compromisso”, explicou José Senine, vice-presidente de recursos humanos do Carrefour.

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