No segundo dia de depoimento, o ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello disse que a decisão de não intervir na crise do Amazonas foi tomada em reunião com o presidente Bolsonaro. Ele atribuiu a responsabilidade pela falta de oxigênio à empresa fornecedora e ao governo do estado.
Eduardo Pazuello chegou para o segundo dia de depoimento com uma promessa e pedindo respeito: "Solicitaria, de forma muito, muito, muito humilde aos senhores, que a gente lembrasse que os compromissos de dizer a verdade e o respeito que eu tenho por esse compromisso... ele está muito além da comissão parlamentar de inquérito. Eu sou um oficial general".
Mas mal o depoimento começou, ele já foi cobrado. Falar a verdade... uma coisa que não tem dentro do exército é enrolação. Ou o cara é ou não é. Lá não tem meio-termo", disse o presidente da CPI da Pandemia, Omar Aziz (PSD-AM).
Os senadores aprofundaram os questionamentos sobre a falta de oxigênio em Manaus. O ex-ministro responsabilizou a principal fornecedora do produto no Brasil e o governo do Amazonas.
"Começa na empresa que consome a sua reserva estratégica e não se posiciona de uma forma clara, e a outra, da secretaria de saúde", afirmou ele.
Ele admitiu, entretanto, que a decisão de não intervir no estado foi do presidente Bolsonaro.
Pazuello foi acusado de usar Manaus como um laboratório, com distribuição de cloroquina para tentar diminuir as mortes. O remédio é considerado ineficaz pela ciência contra a Covid-19, e os óbitos no estado aumentaram.
"Para usar de cobaia, para ter experiência foi feito lá, senador Eduardo (Girão), inclusive um suposto programa para supostamente identificar se você estava com Covid ou não, disse Aziz.
O senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) rebateu: "Presidente, o senhor me desculpe, mas não é cobaia. É uma tentativa (...) é uma tentativa de melhorar o atendimento ao público".
Aliados do planalto apresentaram vídeos de governadores defendendo o uso do medicamento.
O governador do Maranhão, no entanto, foi um dos que frisaram que o material era de abril do ano passado, quando a Organização Mundial de Saúde (OMS) ainda não tinha determinado a ineficácia da cloroquina.
O momento de maior supresa para os parlamentares foi sobre a plataforma do Ministério da Saúde, que receitava o kit covid pela internet praticamente de maneira automática. O ex-ministro disse que o Tratecov foi hackeado.
"Foi hackeado, puxado por um cidadão. Existe um boletim de ocorrência, uma investigação que chega nessa pessoa. Ele foi descoberto. Ele pegou esse diagnóstico, botou, alterou, com dados lá dentro, e colocou na rede pública (...) No dia em que nós descobrimos que ele foi hackeado, eu mandei tirar do ar imediatamente", afirmou Pazuello.
Sobre a demora na aquisição de vacinas, Pazuello negou atraso na compra da Coronavac. Ele disse que não assinou contrato antes com a Pfizer porque dependia de uma Medida Provisória para acabar com divergências jurídicas.
O relator da CPI, Renan Calheiros (MDB-AL), afirmou que Pazuello mentiu pelo menos 14 vezes à comissão. O depoimento deve ser encaminhado ao Ministério Público para que os promotores decidam se indiciam o ex-ministro.
Na terça que vem, os senadores ouvem a secretária de Gestão do Ministério da Saúde, Mayra Pinheiro, conhecida como "capitã cloroquina", pela defesa que fez da cloroquina durante o caos em Manaus.