O brasileiro Bruno Treptow, pai da apresentadora do Jornal da Band, Joana Treptow, foi um dos sobreviventes à queda de um prédio de 12 andares na madrugada desta quinta-feira (24) em Miami, nos Estados Unidos. Os dois não conseguiram segurar a emoção durante a conversa ao vivo no programa, onde ele deu detalhes do desabamento e do resgate.
“Foi uma coisa surreal, não sei como te dizer”, disse Bruno, que morava no prédio há 20 anos, com a voz embargada. “Parece uma montanha russa emocional”, acrescentou.
“Queria que você soubesse que você é meu herói”, disse Joana, que também se emocionou, ao fim da entrevista ao vivo.
Bruno Treptow descreveu o desabamento da madrugada. Por volta de 1h30 (horário local), os moradores perceberam um forte estrondo – que ele disse acreditar que fosse um barulho do teto. A mulher de Bruno acordou assustada.
Veio então outro estrondo, que derrubou partes do teto do apartamento. “Falei: ‘Pronto, vamos morrer’”, descreveu.
“Estava uma névoa de poeira incrível, não conseguia ver nada. Fui para a porta da frente, abri, outra névoa, não vi nada. Vi umas coisas penduradas”, descreveu o brasileiro. “Dois passos para frente da minha porta, o prédio deixou de existir.”
Segundo Bruno Treptow, cerca de 81 apartamentos despencaram. Preso em casa, ele foi para a varanda à espera de instruções. Uma escada Magirus então chegou para o resgate. “Foi quando a gente desceu. Por sorte, graças a deus, acho que nascemos outra vez”, contou.
Bruno chegou a mandar um vídeo de dentro do apartamento para Joana, relatando o que descreveu como “uma calamidade”.
Assista ao vídeo que Bruno Treptow mandou para a filha
“Não tenho certeza. Nós estamos aqui presos no nosso apartamento. Houve um estrondo enorme. Não sei o que aconteceu, mas parece que toda a parte que dá para o mar do edifício caiu. Eu abri a porta para sair no corredor agora e não vejo nada. Acho que dou três passos e não vejo nada. Eu sinto a brisa do mar, está tudo escuro, muita fumaça. Eu estou filmando aqui para você ver. Toda a cidade está interditada”, descreve ele na gravação.
Até aqui, segundo Bruno Treptow, há três teorias para explicar o desabamento do prédio. A primeira diz respeito há uma reforma recente na construção, de cerca de 40 anos, que levou equipamentos pesados ao endereço para a troca de uma cobertura.
Cogita-se ainda a possibilidade de um buraco subterrâneo formado naturalmente sob o condomínio, ou ainda efeitos de uma garagem construída sob um prédio de alto padrão, inaugurado há poucos anos na vizinhança, que poderia ter provocado fissuras estruturais.
“Ainda é muito cedo para dizer”, disse Bruno Treptow. “Não sei se a soma desses fatores ajuda a fazer o que aconteceu hoje”, acrescentou.
‘Choque’ e ‘gratidão’
Ao Jornal da Band, Joana disse que ficou “em choque” com o contato do pai durante a madrugada.
“No primeiro momento, eu não consegui entender o que estava acontecendo. Meu pai falou que o prédio desabou quando ele conseguiu falar comigo – porque ele tentou me ligar 3h e eu não acordei. Ele teria me ligado para se despedir, ele achou que ele fosse morrer”, explicou.
“Ele achou que o teto estava caindo. Por questão de segundos, ele também ia junto. Quando ele conseguiu falar comigo, ele estava bem nervoso e eu não entendi o que ele quis dizer com ‘o prédio desabou’. Imaginei que tivesse acontecido algum tipo de acidente, mas ele esteva me ligando.”
“Quando ele foi me contando de fato o que tinha acontecido, e falando sobre os vizinhos, falando que ele abriu a porta e não havia mais o corredor, que ele via o mar, ele não tinha vista para o mar, que ele abria porta de casa e tinha um vazio, falando dos vizinhos, das pessoas que ele conhecia, a quantidade de pessoas que ele imagina que estavam desaparecidas e que podem estar mortas, eu comecei a entender o tamanho, a dimensão. Eu fiquei em choque”, completou a jornalista.
Apesar da preocupação ao longo do dia, Joana afirmou sentir “gratidão por ele estar vivo”. Mas relatou também “muita tristeza por saber que outras pessoas não podem falar isso que eu estou falando agora”.
O condomínio
A equipe de bombeiros da cidade é altamente treinada para resgates de grandes tragédias, já que Miami fica na rota de furacões. Mesmo assim, os profissionais precisaram avaliar se novos desabamentos poderiam ocorrer antes de iniciar novas buscas.
Por causa da reforma no telhado, o prédio seria submetido a uma inspeção - como manda a legislação da Florida, que exige que construções tenham estrutura e instalações elétricas avaliadas a cada 40 anos.
O edifício fazia parte do condomínio Champlain Towers South, que terminou de ser construído em 1981. O complexo está localizado em Surfside, a 10 km de Miami Beach. As unidades, com até quatro quartos, tinham preços que variavam de US$ 600 mil a US$ 700 mil.
O condomínio é muito popular entre famílias que vão à Flórida nos meses de inverno nos Estados Unidos em busca de temperaturas mais agradáveis. Entre os desaparecidos, estão estrangeiros, como cidadãos da Argentina e da Venezuela.