Julho marca o início da imigração dos alemães para o Brasil, iniciada em 1824. Mas após a Primeira Guerra Mundial, a quantidade de imigrantes vindos da Alemanha ao país aumentou bastante, principalmente a partir da década de 20, quando o regime nazista ganhou força.
A ascensão de Adolf Hitler levou o mundo à Segunda Guerra Mundial e, com ela, a mobilização dos países contra a Alemanha. Com a entrada do Brasil na guerra em 1942, os imigrantes alemães começaram a sofrer com xenofobia e proibições em território nacional, como explica a historiadora e coordenadora cultural Daniela Hothfuss.
"A partir daí foi proibido falar alemão nas ruas, em lugares públicos, foi proibido ter escolas alemães", pontua. Mas a guerra não impediu a integração dos imigrantes no país, além de influenciar a cultura brasileira.
Em São Paulo, restaurantes servem delícias alemãs para manter a tradição. O Windhuk é um deles, fundado por tripulantes de um navio que veio parar na costa brasileira justamente no começo da Segunda Guerra Mundial.
Walfrido Krieger, sócio do restaurante, relembra como eles se estabeleceram. "Eles não podiam voltar para casa, não tinha como. Então eles tinham que se virar aqui", conta.
Ele e o irmão, Francisco, fazem questão de preservar a história. "As pessoas encontraram um lugar para um recomeço, para lutar, para formar suas famílias e eram pessoas firmes, de fé", diz Francisco.
No pós-guerra, a Alemanha estranhou os imigrantes
A partir do pós-guerra, quem passou a receber os imigrantes foi a Alemanha. Berlim, dividida pelo mais famoso muro da história, estranhava os imigrantes que chegavam após o fim do conflito.
Murá Soares, que é diretor de um centro cultural na cidade, relembra como foi a mudança, na época em que o muro ainda existia. "Eles puxavam meu cabelo, passavam a mão na minha pele para ver se era preto realmente", indica.
Quase metade da atual população da Alemanha nasceu depois da queda do muro de Berlim. O que eles conhecem são alguns resquícios dessa cortina de ferro espalhados por Berlim, como este. O esforço do país hoje é deixar essa divisão no passado, e integrar cada vez mais a população que mora na região.
Um dos desafios é acabar com o preconceito contra imigrantes e seus descendentes. Alguns pesquisadores alemães tentam buscar respostas na experiência brasileira de integração de culturas.
No Brasil, alemães protestantes sofreram com Igreja Católica
Atualmente como um dos países com maior proporção de pessoas sem religião, até pouco tempo a Alemanha tinha maioria crista. Em hospitais, haviam entradas exclusivas para católicos e do outro, para protestantes.
60% dos alemães que foram ao Brasil eram protestantes, o que tornou a vida complicada, como explica a historiadora Silvia Cristina Siriani. "Toda parte de registros civis, casamento, nascimento, morte, tudo isso era feito pela igreja. E os cemitérios eram da igreja católica", indica.
Muitos cemitérios brasileiros não aceitavam enterrar protestantes, por isso, os imigrantes tiveram que criar novos locais para sepultamentos, como o cemitério fundado em 1829 em Parelheiros, no sul de São Paulo.