Mais de 50 cidades do Mato Grosso do Sul podem ser atingidas em caso de derrubada do marco temporal das áreas indígenas, em julgamento no Supremo Tribunal Federal (STF). Produtores rurais temem perder as terras onde moram e trabalham há várias décadas.
Na cidade de Douradina, a reportagem do Jornal da Band encontrou dona Mariquinha. Ela preparava o alho que tinha acabado de colher no sítio de 4 hectares, onde vive com a família há mais de 50 anos.
Mariquinha está entre as centenas de famílias que vieram para a região incentivadas pelo governo federal. Bem-humorada, a produtora rural só fecha a cara quando o assunto é o marco temporal.
Meu esposo chegou aqui em 1950 e comprou isso aqui. Comprou e pagou. Eu não saio daqui. Só saio daqui morta (Mariquinha)
Outro entrevistado pela nossa equipe é Vanderlei Alves de Oliveira, produtor de soja e milho na mesma região pretendida pelos indígenas da etnia guarani.
Nunca existiu indígena neste local. É muito difícil você trabalhar, investir e depois você ver o seu resultado final não alcançar o objetivo, que é passar a sucessão para nossos filhos (Vanderlei Alves de Oliveira)
Fuga de investidores
Desde que o Supremo retomou a discussão sobre a derrubada do marco temporal, os investidores sumiram. Muitos agricultores já não conseguem mais financiar a produção.
“Nós sabemos de vários negócios, de investimentos de produtores rurais, de empresas que querem se instalar em nossa região, porém essa insegurança que geram acaba que eles [investidores] botam o pé no freio, gerando uma retração muito grande para o nosso município”, explicou Rodrigo Ângelo Lorenzeti, presidente do sindicato rural de Amambai.
Para a senadora Tereza Cristina, ex-ministra da Agricultura, a decisão do marco temporal cabe ao Congresso Nacional e não ao STF.
“O papel do Senado é votar isso, rapidamente. A Câmara já o fez. Agora, está no Senado Federal. Quando nós não legislamos, nesta Casa, o Supremo acaba esse papel, que não é dele. É do Congresso Nacional. É daqui que devem sair as leis”, pontuou a senadora.
50 municípios atingidos
O sul do Mato Grosso do Sul é uma das regiões mais produtivas do país, onde são cultivados, principalmente, o milho e a soja. Por outro lado, toda essa riqueza está ameaçada pela derrubada do marco temporal. Só na região, 50 municípios serão afetados.
Além de Douradina, onde um terço da área pode ser perdida, outros municípios, como Dourados, Coronel Sapucaia e Amambai, podem deixar de existir para darem lugar a reservas indígenas.
Aqui, produz-se, praticamente, tudo o que plantar. Se planta soja, produz. Se planta milho, produz. Se planta trigo, produz. Isso não pode acabar. Isso tem que ampliar mais (Claudio Pradela, presidente do Sindicato Rural de Douradina)
Empresário relata temor
A insegurança é no campo e também nas cidades. Luís Douraterra é dono de uma empresa de terraplanagem e material de construção. Ele teve que construir um muro porque, do outro lado, tem uma invasão indígena.
“O clima é de muita insegurança porque eles já vieram até minha empresa. Eu fui recebê-los no portão. Eles me falaram que eu não podia mais ficar aqui, que as terras eram deles e que eu não e que era para eu retirar minhas coisas daqui”, lamentou Luís Douraterra.
Vanilda é outra vítima da violência provocada pelo conflito de terras entre indígenas e produtores. Há sete anos, a fazenda que ela herdou dos pais foi invadida.
“A gente achava que ia envelhecer lá, mas a gente se viu, da noite para o dia, obrigado a vir para a cidade. Você se sente encurralado, sem amparo da justiça, da segurança pública. A gente não tem assistência nenhuma” Vanilda Valentim.
Aflição em SC e no PR
Em Santa Catarina e Paraná, o temor é o mesmo. As matérias que foram ao ar no Jornal da Band, na segunda (18) e terça-feira (19), mostraram a aflição de famílias devido ao julgamento do marco temporal, previsto para ser retomado na próxima quarta-feira (20). Abaixo, veja as reportagens completas!