Dias antes do escândalo envolvendo os laboratórios da PCS Saleme, a Vigilância Sanitária fez uma inspeção na unidade de Nova Iguaçu, no Rio de Janeiro. O local apresentou ao menos 39 irregularidades e foi interditado pelos agentes. 

Dentre as irregularidades, foram encontrados kits sorológicos armazenados de forma improvisada: dentro de potes de sorvete, em uma geladeira doméstica; amostras do Programa Estadual de Transplantes sem identificação adequada, algumas até sem tampa. 

Há indícios de que os donos foram avisados antes da vistoria. A supervisora Ariel Santos criou até um grupo no WhatsApp para alertar funcionários que agentes poderiam "virar a unidade de cabeça para baixo". Jaqueline Iris Bacelar, funcionária presa na semana passada, confirmou em depoimento que "tudo foi arrumado para que a fiscalização tivesse uma boa impressão". Mesmo assim, o laboratório foi interditado.

Pelo menos seis pessoas foram contaminadas com HIV após receberem órgãos de doadores testados pelo PCS Saleme. O caso foi revelado na Band semana passada. Um dos sócios e três funcionários foram presos.

Segundo o Ministério Público, o laboratório emitiu "dezenas de laudos com resultados falsos para HIV, tanto positivos quanto negativos, inclusive em crianças". MP também afirma que os investigados agiam por "ganância, algo sem precedentes no Brasil". 

As autoridades suspeitam que exames foram intencionalmente manipulados. Em uma mensagem de WhatsApp, o sócio-proprietário Walter Vieira, também preso, comenta que "vai dar uma aumentadinha no LDL, tá muito baixo". LDL é um dos indicadores de colesterol no sangue.

Pelo menos três funcionários já relataram à polícia que o laboratório reduziu a frequência dos controles de qualidade dos reagentes, de diários para semanais, com o objetivo de cortar custos e aumentar os lucros.