Independência ou morte: pintura é destaque no Museu do Ipiranga

Ao vivo, a tela é bem mais impactante. São mais de sete metros de largura e quatro de altura

Roberta Scherer

O quadro “Independência ou morte” já foi visto por muita gente nos tempos de escola. Pequenininho nos livros de artes e de história. Ao vivo, a tela é bem mais impactante. São mais de sete metros de largura e quatro de altura. 

Essa joia brasileira, pintada por Pedro Américo, está guardada a sete chaves esperando a reinauguração da instituição e já que o Salão Nobre está em obras a proteção foi reforçada e não tem como dar nenhuma espiadinha. 

O projeto de restauração aconteceu no próprio salão. A obra é maior que a porta e desmontar tudo seria mais difícil. Uma equipe de 10 pessoas trabalhou na tela e na moldura.

“A tela ganhou as cores originais, né, voltaram as cores, né, então ela está realmente muito próximo do original mesmo”, conta Yara Ligia Moreira Petrela, restauradora.

A reprodução em tamanho original dá uma ideia da grandiosidade da obra. Uma tela de sete por quatro metros, recheada de detalhes.

Pedro Américo era paraibano, mas vivia na Itália como muitos dos artistas da época e 66 anos depois da Independência recebeu uma encomenda da família real: pintar o célebre momento de Dom Pedro I às margens do Ipiranga.

Lá está o riacho e Dom Pedro empunhando a espada com dezenas de outros homens, companheiros de viagem e guardas e no canto da imagem um detalhe chama bastante atenção.

“O homem do carro de boi tem muito essa característica, ser alguém do povo, alguém caipira... Ele deu à tela uma contemporaneidade para o final do século 19 que fez com que ela se tornasse figura emblemática”, explica Cecília Helena Lorenzini, ex-diretora do Museu.

O pintor fez vários desenhos até chegar à tela final. Visitou São Paulo e há quem diga que se inspirou em outro quadro, a batalha de Friedland, do francês Ernest Meissonier. 

“Virou um elemento simbólico que agrega esse discurso de imagens para falar 'olha, aqui foi a independência do Brasil”, explica o historiador Elias Feitosa. 

A tela mostra um momento idealizado, glorioso não exatamente um retrato fiel daquele momento. Afinal, para aquele tipo de viagem era mais comum usar mulas e é difícil imaginar Dom Pedro com aquele desconfortável uniforme para percorrer uma longa distância. 

“ O que interessa ali na verdade é marcar o fato, de Dom Pedro estar ali no ritual todo, mas a gente sabe que é uma imagem construída, ele estava projetando simbolicamente o que seria para gerações futuras, nós, o registro da independência”, explica Feitosa.

“Quando o espectador estiver bem lá na frente dessa tela, primeiro avalia as qualidades estéticas dessa tela, ou seja, o apuro do artista. E como seria possível ler a tela? Você tem que dividir em quatro, vê onde centra a atenção, quem está prestando atenção na tela e para onde o olhar deve ser, e é preciso ler também como o "falta o quê nessa tela?" Falta povo. Ou seja, qual é a mensagem aí? Que a Independência foi um ato de cima para baixo, e que não houve uma participação popular”, afirma Lilia Schwarz.

Quem visitar o museu a partir de setembro, poderá ver de perto o quadro e refletir sobre a intenção do artista. As verdades, a imaginação, a construção da história e conhecer essa casinha de pau-a-pique, que fica no parque, e ganhou até uma nova janela na lateral, para se parecer mais ainda mais com a da pintura.

OP primeiro registo da chamada casa do grito é de 22 anos depois da Independência, mas quem visitá-la pode se sentir parte da tela de Pedro Américo.

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