"Pedro, se o Brasil se libertar, antes seja para ti, que me as de respeitar, do que para qualquer um desses aventureiros. Pedro, faça a independência desta terra, o Brasil é grande", teria dito Dom João VI para seu filho Pedro, aténs de deixá-lo no Brasil como Príncipe Regente e partir para Portugal.
O professor Milton Teixeira já contou essa história para milhares e milhares de pessoas. E ele se veste a caráter para reviver esses momentos de Dom João. Ele conta para o pessoal que levou algum tempo, depois da proclamação, para coroa acabar enfim na cabeça do Dom Pedro.
“Em 1º de dezembro de 1822 que ele foi coroado na igreja do Carmo”, conta o professor. Antes disso, no dia 12 de outubro, Dom Pedro foi aclamado Imperador. Na época, a cerimônia foi considerada a data oficial da separação do Brasil.
“Meu filho sempre considerou que a independência do Brasil aconteceu em 12 de outubro, quando o povo o reconheceu como seu líder, seu imperador. Eu concordo com ele. 7 de setembro foi um grito no meio do mato”, conta o historiador caracterizado de Dom João VI.
É que o grito de Independência não tinha causado grande repercussão. Somente 13 dias depois, o jornal "O Espelho," foi o único a noticiar o que aconteceu, mas ainda estávamos bem longe de conseguir a unidade política nesse novo império.
“A Independência ela não foi um processo único, ela foi um processo lento, tanto que por exemplo, só em 1925 você tem o reconhecimento, alguns estados do Brasil só em 1922, 1923 ficaram sabendo o que estava ocorrendo”, conta Rafael Zamorano, historiador do Museu Histórico Nacional.
O processo de independência foi bem demorado e antes mesmo de setembro de 1822, em vários estados já ferviam os movimentos querendo a separação de Portugal.
“Uma conjuração é feita de um desejo revolucionário de determinados setores da comunidade. Uma independência não é feita de um ato isolado no Ipiranga onde nem havia um morro, onde tão pouco Dom Pedro estava num cavalo, estava numa mula, e se nós prestarmos atenção para as conjurações aí sim a gente vê um projeto mais largo de independência, porque elas foram feitas por diferentes setores da sociedade”, explica a historiadora Lilia Schwarcz.
Em Ouro Preto (MG) foi em 1.789 que uma pequena parte da elite, da então Vila Rica, se rebelou contra o domínio português. Eram intelectuais, fazendeiros, religiosos, militares, incluindo o Joaquim José da Silva, o Tiradentes.
Parte da elite estava endividada com os altos impostos cobrados pela coroa. “A gente tem que considerar também é a importância das ideias de liberdade e de soberania que tão circulando nas minas através dos livros que chegavam até aqui clandestinos, livro escondido, traficado clandestinamente através dos poetas que estudaram em Coimbra e trouxeram na bagagem as ideias iluministas e pré-iluministas”, conta Heloisa Starling.
Cinco anos depois, em 1794, foi formada a conjuração do Rio de Janeiro. Um grupo de intelectuais cariocas fundou a Sociedade Literária. Eles estudavam e debatiam os grandes pensadores.
“A Conjuração do Rio de Janeiro ela foi uma organização literária, ela foi um conjunto literário que discutiam coisas que estavam em pauta, ideias iluministas e que foi reprimida por isso”, diz Rafael Zamorano, historiador do Museu Histórico Nacional.
Ainda na Bahia a população estava bastante irritada com o valor dos impostos e com o preço dos alimentos subindo sem parar. Tudo depois que a capital do Brasil foi transferida de Salvador para o Rio de Janeiro.
“Os rebeldes da Inconfidência Mineira, os rebeldes da Conjuração Baiana, os rebeldes do processo de independência, os rebeldes das revoltas escravas são pessoas que pretendiam, que estavam tentando porque já tinham esgotado todas possibilidades, garantir algum lugar de poder numa ordem social extremamente desigual. Já era possível imaginar que uma ordem social política e econômica com escravismo ela não garantiria uma sociedade igualitária”, explica a historiadora Wlamyra Ribeiro de Albuquerque.
Foi em Pernambuco que aconteceu em 1817 um outro projeto de independência. “Há um projeto de Brasil, um projeto de futuro para o Brasil que está sendo pensado em Pernambuco, que é republicano, libertário, federalista, e com autogoverno. Pensa bem se não é o caso da coroa, das duas coroas, a do Rio de Janeiro e a de Lisboa ficarem preocupadas com os pernambucanos? ”, conta Heloisa Starling, historiadora.
Os conflitos em torno da Independência duraram até 1824 e em março deste mesmo ano nasceu a primeira constituição brasileira.