
Os problemas na igreja onde uma turista morreu por causa do desabamento do teto em Salvador existem há anos, mas nada foi feito. O presidente Lula culpou o tombamento do patrimônio histórico pelo atraso nas obras de manutenção.
O dia começou com peritos federais na Igreja de São Francisco, no Pelourinho. A investigação busca a causa da queda do forro da nave central. A tragédia, que aconteceu na tarde desta quarta-feira (5), deixou uma turista morta e cinco pessoas levemente feridas.
Dois dias antes da queda do forro, a administração da igreja percebeu uma dilatação e mandou uma carta ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, o Iphan, que marcou a vistoria para esta quinta-feira (6).
“A igreja permaneceu aberta, não havia nenhum laudo da Defesa Civil indicando. É uma tragédia, uma situação que não havia indicativo de que aconteceria”, disse Leonardo Grass, presidente do Iphan.
A Defesa Civil de Salvador disse que não sabia de problemas estruturais na parte interna do templo.
A igreja foi construída no século XVIII em estilo barroco. As paredes são revestidas de ouro e a mobília é de metais preciosos e madeiras nobres. O forro que desabou tinha pinturas importantes para a história da arte sacra da Bahia.
Apesar de ser tombada pelo Iphan e estar entre os lugares mais visitados do centro histórico de Salvador, a igreja de São Francisco vem enfrentando danos na estrutura há alguns anos. O caso já foi parar no Tribunal de Justiça.
Em 2021, a Justiça Federal, baseada em uma denúncia do Ministério Público Federal, exigiu intervenções urgentes para manter a estabilidade do imóvel. A decisão cita problemas no pavimento superior, na clausura e em várias outras partes, inclusive em peças de madeira e na fiação elétrica.
A sentença determinou que o Iphan fizesse os reparos, já que a Ordem Primeira de São Francisco, entidade católica responsável pelo templo, não tinha recursos.
Em entrevista a uma rádio de Salvador, o presidente Lula culpou a burocracia causada pelo tombamento histórico pela tragédia.
“Temos que ter responsabilidade ao fazer o tombamento de qualquer prédio público. É colocar dinheiro para que aquilo seja mantido e tenha gente preparada para fazer manutenção. Você tomba e a coisa vai apodrecendo e envelhecendo. Precisamos rever, senão teremos muitas coisas tombadas caindo”, disse.
Em 2023, um dos pátios da igreja foi interditado por causa de risco de desabamento. O governo federal fez melhorias, mas não em toda a estrutura. Quatro meses atrás, o Iphan assinou uma ordem de serviço para reforma no valor de R$ 1,2 milhão, e ainda estava em fase de licitação.
“Se tratando de imóvel tombado, a repercussão vai além da fase criminal. Sabemos que haverá repercussão civil e administrativa”, disse o delegado Maurício Salim.