'Horrores de Auschwitz': repórter revisita holocausto em nova série da Band

Moisés Rabinovici reviveu tragédia familiar em produção; mãe teve de fugir da Polônia devido a perseguição nazista

Por Moises Rabinovici

A convite do governo polonês, o Jornal da Band foi convidado em conjunto com outros jornalistas brasileiros para reviver o holocausto em campos de extermínio, museus e guetos. Com a visita, nasceu uma série especial, que marca o momento em que a última geração de sobreviventes do nazismo está indo embora. 

Na viagem, revisitei os horrores do holocausto e a minha própria história. Porque, diferente de muitos brasileiros com ascendência da Polônia, que descobriram só atualmente as raízes judaicas, conheço parte das minhas origens.

Minha mãe, polonesa, fugiu da cidade-natal dela, Lodz, após soldados nazistas executarem o médico com quem iria se casar. Gela, que aqui no Brasil virou Geni, fugiu da Polônia ao Brasil em 1936, em um navio italiano onde conheceu meu pai, também fugitivo, mas da Bessarábia. 

O casal formado durante a fuga do nazismo, teve dois filhos, na Cruz Vermelha do Rio de Janeiro: em 1943, meu irmão Mário e eu, em 1945. Apesar da nova vida, ela não superou o trauma do nazismo, que a perseguiu por mais de 30 anos. Minha mãe então foi internada, com ‘ideação suicida’ no Instituto Psiquiatria Comunitária, em São Paulo. Ela recebeu alta, mas se suicidou aos 59 anos. 

Na visita à Polônia, fui até o campo de concentração e extermínio de Majdanek, marco da invasão alemã à cidade de Lodz, em seis de setembro de 1939. Essas lembranças de minha mãe e da fuga dela me ocorrem aqui porque estou em um campo de concentração na cidade de Lublin, que despertam sentimentos muito dolorosos e traumáticos. 

Holocausto quase dizimou comunidade judaica na Polônia

Haviam 3,5 milhões de judeus na Polônia, em 1939. Hoje, restaram apenas 30 mil. Nos arquivos do Centro Internacional da Memória da Perseguição Nazista Arolsen, encontrei quase 2.500 registros ou variações de Rabinovici, sobrenome de meu pai e 22 de Rochwerger, de minha mãe. 

Entre os 6 milhões de judeus mortos nos campos de extermínio, estão 42 brasileiros. Outros 15 morreram durante as lutas pela resistência francesa. Eles foram descobertos pela pesquisadora Blima Rajzla Lorger e revelados no livro “Brasileiros no Holocausto e na Resistência ao Nazifascismo”. 

Os mortos sem sepultura de mais de 80 anos atrás surgem quando terrenos são escavados para construções, como ocorreu em Lublin, durante a visita à Polônia. Os 25 esqueletos encontrados devem ser os primeiros dos 900 judeus enterrados em uma vala comum ali, que antes era um bosque em 1942. 

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