A polícia de São Paulo está investigando a Imobiliária Rodrigues Maia, acusada por clientes e ex-funcionários de aplicar golpes nos consumidores. Pelo menos 40 pessoas teriam sido lesadas, com prejuízo estimado de pelo menos R$ 2 milhões.
Um dos clientes, que prefere não se identificar, perdeu 100 mil reais transferidos à empresa como entrada de um imóvel:
“Depois que eu paguei, a primeira coisa que perguntei foi quando eu pego a chave. Primeiro disseram janeiro, de janeiro foi para fevereiro, de fevereiro foi para março e até agora nada. Foram 30 anos trabalhados, juntando dinheiro, e agora está aí na mão deles e não consigo receber”, disse.
Em outro caso, a imobiliária recebeu o pagamento pela venda de uma casa na zona sul de São Paulo, mas entregou ao dono do imóvel um cheque sem fundo de R$ 250 mil.
A vítima é um idoso de 82 anos. Alguns consumidores já entraram na justiça contra a imobiliária para tentar recuperar os valores pagos e tiveram decisões favoráveis, mas o dinheiro não apareceu.
As vítimas registraram boletim de ocorrência na 89ª Delegacia de Polícia de SP, que abriu três inquéritos para apurar o caso. Ex-funcionários confirmam a conduta criminosa:
“Eles captavam o cliente, pegavam o valor dito de entrada ou de prestação de serviço, e depois sumia a atenção com o cliente, deixava o cliente a ver navios - relatou o profissional, que também mantém a identidade em sigilo”, afirmou.
Os trabalhadores também acusam os proprietários de usarem o nome de integrantes da equipe para abrir empresas laranjas, usadas para assinar contratos fraudulentos e fazer movimentações bancárias suspeitas.
Um dos profissionais, ao sair da empresa, descobriu uma dívida no nome dele de quase meio milhão de reais.
“Hoje tem pessoas me cobrando, sendo que nunca assinei nenhum contrato dessa empresa", afirma o trabalhador, que prefere não se identificar. O profissional foi ameaçado depois de cobrar uma solução do dono da imobiliária, Ronaldo Rodrigues dos Santos.
“Vai ter um cara na tua cola. Você vai me conhecer de uma forma que eu falei pra você, eu não quero me machucar e não quero machucar você”, disse Ronaldo, em ligação gravada pelo ex-funcionário.
O dono da imobiliária também estaria ameaçando clientes que procuraram a polícia. Uma das consumidoras, que perdeu 20 mil reais numa negociação, decidiu mudar de emprego por receio das ameaças:
“Não dormimos mais, mudamos totalmente nossa vida. Nosso dinheiro acho que não volta, mas não queremos que ele faça novas vítimas”, lamenta.
Após o Jornal da Band denunciar o caso, fiscais do Conselho Regional de Corretores de Imóveis de São Paulo fecharam cinco unidades da Imobiliária Rodrigues Maia por exercício ilegal da atividade.
A fiscalização ocorreu na quinta-feira (21), com a presença da polícia militar na sede da empresa, na Avenida Giovanni Gronchi, na zona sul de São Paulo.
O dono, Ronaldo Rodrigues dos Santos, foi levado para prestar esclarecimentos na delegacia. Na saída do prédio, ele não quis responder as perguntas dos jornalistas:
“Fica tranquilo que tudo tem seu momento, esse não é o momento de se defender", disse Ronaldo, que teve o registro profissional de corretor de imóveis cancelado e está proibido de atuar no mercado. O dono da imobiliária vai responder à investigação criminal em liberdade. Em 2021, Ronaldo foi condenado a 1 ano e dois meses de prisão por estelionato, mas a pena foi convertida numa multa, que nunca foi paga.