Filhos de criminosos recorrem à Justiça para se desvincular dos sobrenomes dos pais; entenda

Uma lei, de 2022, permite que qualquer pessoa, maior de idade, mude seu sobrenome

Igor Calian

Richthofen, Cravinhos, Matsunaga... sobrenomes conhecidos por causa da gravidade dos crimes cometidos pelos assassinos. Para fugir de uma herança maldita como essa, filhos de condenados recorrem à Justiça para se desvincular da identidade dos pais. E não é tão fácil. 

Suzane Von Richthofen. Condenada, em 2022, a 39 anos de prisão pelo assassinato dos pais. Suzane Louise Muniz, em 2025, cumpre regime aberto. 

Elize Matsunaga. Condenada em 2012 a quase 20 anos de prisão por matar e esquartejar o marido. Elize Araújo Giacomini, em 2025, está no regime semiaberto. 

Mais do que cabelos e outras características físicas, criminosos condenados, principalmente em casos de grande repercussão, também mudam de nome. A estratégia é aplicada para tentar limpar as marcas dos crimes cometidos. 

Nos últimos anos, muitos filhos de criminosos fizeram o mesmo. Uma lei, de 2022, permite que qualquer pessoa, maior de idade, mude seu sobrenome. É só ir até um cartório, pagar uma taxa e comprovar o grau de parentesco com o novo sobrenome desejado. 

Tirar o sobrenome de criminosos condenados é uma grande vitória para quem não quer carregar as consequências dos crimes de seus genitores. Mas só a mudança ainda é pouco em vários casos. Para mudar a filiação, o nome do pai e da mãe que aparece nos documentos, é necessário anular a paternidade – o que só é possível judicialmente e pode ser um processo complexo. 

“Ela precisa ter as provas do abandono afetivo, porque o crime por si só, muitas vezes, não gera o motivo para a anulação da paternidade. Mas o abandono afetivo gera, porque quebra qualquer identidade de uma pessoa com a outra”, explicou a advogada familista Vanessa Paiva ao Jornal da Band. 

O filho de Cristian Cravinhos, condenado junto com Suzane Richthofen, conseguiu. Com uma decisão do Superior Tribunal de Justiça, o nome de Cristian não está em mais nenhum documento do filho. 

“O filho do Christian Cravinhos, ele mesmo diz: "Eu nunca tive vínculo com o meu pai. O meu pai, eu vi três vezes na vida”. Isso se chama abandono afetivo”, completou a especialista. 

E não são só os casos de grande repercussão. Tem mães, por exemplo, que tentam tirar, na Justiça, o nome de pais criminosos dos documentos dos filhos. 

“O genitor foi condenado criminalmente por estupro de vulnerável. Já tem 3 anos que eu tô nessa luta de proteger o meu filho contra um pedófilo. Tirar todo o direito e dever do genitor e também tirar o sobrenome da certidão de nascimento, né?”, disse uma entrevistada. 

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