'Farra das Reintegrações': condenados por diversos crimes voltam para cargos no RJ

Pelo menos 65 funcionários públicos exonerados já foram beneficiados por decisões de uma comissão do governo estadual

Por Fernando David

'Farra das Reintegrações': condenados por diversos crimes voltam para cargos no RJ
Polícia Civil X PCERJ
Reprodução/PCERJ

O delegado Álvaro Lins chegou à chefia da polícia do Rio de Janeiro e teve uma gestão vista como exemplar: grandes traficantes foram presos e Lins se tornou símbolo do combate ao crime, acabando como deputado estadual em 2006. Mas pouco depois, foi condenado a 28 anos de prisão por ter vínculo com a máfia dos caça-níqueis. 

E 15 anos depois, o inesperado aconteceu. Álvaro Lins foi reintegrado à corporação. Ele recebeu o perdão oficial de uma comissão criada pelo governo do Rio para reavaliar exonerações de servidores. A falta de transparência nas ações da comissão tem sido alvo de críticas.

A reintegração de Lins, por exemplo, foi publicada no Diário Oficial de forma discreta, sem qualquer menção ao nome do delegado. Para o delegado Vinícius George, isso demonstra falta de transparência pelo governo. 

"Não houve em momento algum. Os processos são restritos, e as publicações omitem os nomes. Nós só ficamos sabendo quando o fato está consumado. É um desestímulo interno enorme e claro que afeta ainda mais a credibilidade e a legitimidade da polícia", afirma George. 

O governo do estado diz que a comissão foi criada para analisar o caso de servidores inocentados em processos judiciais ou administrativos. O delegado Álvaro Lins foi condenado em primeira e segunda instância na Justiça Federal. Recorreu ao STF e teve as condenações anuladas.

Até agora, 65 servidores exonerados já foram beneficiados por decisões da comissão, um fenômeno que tem gerado desconforto nas corporações e, nos corredores da Polícia Civil, ganhou o apelido de "A Farra das Reintegrações". 

O agora reabilitado Álvaro Lins terá a companhia de um antigo conhecido: um inspetor de polícia também reintegrado. Segundo o Ministério Público, Jorge Luiz Fernandes, o Jorginho, fazia parte de um núcleo da polícia que ajudava a proteger o grupo do contraventor Rogério de Andrade.

Depois de ser preso, segundo o MP, ele próprio passou a atuar como bicheiro. Agora, de volta às fileiras, com os direitos do cargo assegurados, eles ainda tem a possibilidade de requerer judicialmente os salários retroativos ao período de afastamento. A Band cobrou um posicionamento do Ministério Público, mas não obteve resposta.

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