Foi exatamente em um 22 de janeiro, em 1808, que a família real portuguesa desembarcou no Brasil. No dia 29 de novembro de 1807, bem cedo, a esquadra portuguesa deu a partida para as terras brasileiras.
“Há um relato que no dia do transporte de tudo isso foi um dia muito chuvoso, mas muito chuvoso, tenso, dia cinza, ao ponto de, ao chegarem aos portos, onde estavam os navios, Maria, a Primeira, mãe de Joao VI, ela falou “Me carreguem que eu não quero pisar nessa lamaceira toda. Me coloquem no navio” e há relato que ela tenha sido carregada da sua carruagem até dentro da embarcação porque foi um dia muito tenso. Imagina isso, quase 15 mil pessoas, no meio da chuva. Todo mundo embarcando ao mesmo tempo. Fugindo do inimigo externo, os franceses. Foi um caos generalizado”, conta o historiador Gabriel Neres.
Há quem diga que quando o General Junot, da tropa de Napoleão Bonaparte, chegou no local onde os portugueses embarcaram, ele ainda conseguiu ver a esquadra Portuguesa indo embora, só que ela já estava bem longe.
A saída de Dom João, aqui de Lisboa, foi tão rápida e confusa, que eles não conseguiram embarcar os mais de 50 mil livros da Biblioteca da Corte. Eles acabaram ficando às margens do Rio Tejo e só embarcaram para o Brasil mais tarde. Foram em várias viagens.
Quando a sede da corte portuguesa foi transferida de Salvador para o Rio de Janeiro, apenas um mês depois da chegada ao Brasil, os livros serviram para criar a Biblioteca Nacional. No local tem as relíquias que contam a história da Independência. O tamanho atual é impressionante. São quase 9 milhões de itens.
A vinda da Família Real deu roupa nova a então colônia que, de uma hora para outra, se transformou em Metrópole.
“Isso implica em quê? No desmonte do pacto colonial. Essa relação monopolista entre Portugal e o Brasil é quebrada, e agora o Brasil que recebe a Corte portuguesa consegue estabelecer relações econômicas com vários países amigos históricos e parceiros econômicos”, explica Gabriel Neres.
O Banco do Brasil foi criado nessa época. A primeira Faculdade de Medicina na Bahia, também, era a Escola de Cirurgia. Depois vieram as faculdades de Direito de São Paulo e de Olinda, em Pernambuco.
Até então, no Brasil, por ordem de Lisboa, o escrever para o público não era permitido, mas como a Corte precisava se comunicar com os súditos ela criou uma tipografia para publicar decretos e livros. Era a largada então para os primeiros jornais impressos.
A então colônia foi elevada à condição de Reino Unido, junto a Portugal e Algarves. Dom João VI quis promover o desenvolvimento da arte e da ciência. O Jardim Botânico, no Rio de Janeiro, local importante para a pesquisa científica, foi criado com as plantas que a Família Real trouxe na bagagem.
“Quando a família real chega ao Brasil em 1808, Dom João vê a necessidade de criar uma fábrica de pólvora para defesa do império, sempre ameaçado e tudo mais. E aí ele manda, no decreto, dizer que, junto a casa do diretor da fábrica de pólvora cria-se o Jardim de Aclimação. Então o Jardim de Aclimação foi o embrião do Jardim Botânico. Foi ali que começou o Jardim Botânico”, conta Léa Therezinha Carvalho, museóloga.
Atualmente a coleção de plantas chega a 24 mil espécies. Instituições de vários países fazem pesquisas no local, além de ser um cartão postal para os brasileiros e para o mundo. O corredor de palmeiras imperiais é muito conhecido.
A palma matter, a primeira palmeira foi plantada por Dom João. Ela sobreviveu até 1974 quando foi atingida por um raio e morreu, mas as sementes dela já tinham sido espalhadas pelo Brasil inteiro.