Foram quase dois meses para atravessar o Oceano Atlântico e na chegada à Bahia de Todos os Santos, teve festa. Todo mundo queria saber o que o Príncipe Regente trazia com ele e veio um pouco de tudo, junto com todo mundo. Além da mãe, Dona Maria, a mulher Carlota Joaquina, e os filhos pequenos, um deles Pedro, de 9 anos de idade.
Tinha também gente acostumada com luxo e muitos empregados. Há quem diga que, ao todo, embarcaram em Lisboa, 15 mil pessoas. Cinco por cento da população de Portugal. O aparelho administrativo do estado inteiro.
“Chamamos isso de um transplante do estado português. Uma série de indivíduos que faziam o estado português funcionar vieram junto nas embarcações. Ministros, políticos, grandes indivíduos importantes no aspecto econômico de Portugal vieram todos juntos”, conta o historiador Gabriel Neres.
Além de móveis, carruagens, obras de arte, documentos, arquivos. Tinha tanta coisa, tanta gente, que foi preciso dezenas de embarcações.
“É uma viagem longa, com pessoas que não estão acostumadas. Ali você tinha mistura de pessoas, utensílios e dos animais, que eram consumidos ao longo da viagem. Então você tem alí porcos, galinhas. Era um ambiente muito insalubre, onde você não tinha nem um tipo de organização sanitária. Nenhum tipo de higiene. Aconteceu por exemplo um surto de piolho. Sendo que Carlota Joaquina teve que raspar seu cabelo para ser privada dessa mazela que se contraiu ali no contexto das embarcações”, conta o historiador Gabriel Neres.
O Palácio de Queluz, no Conselho de Cintra, no distrito de Lisboa era a residência oficial da família do príncipe regente Dom João. Em 1807, ele estava no local quando decidiu transferir, de vez, a corte portuguesa para o Brasil.
A operação foi uma manobra. Napoleão Bonaparte ganhava cada vez mais poder e exigia o cumprimento do bloqueio continental de todos os países da Europa contra o poderio econômico militar do Reino Unido.
Só que os portugueses mantiveram relações comerciais com os ingleses, porque eram extremamente dependentes dos produtos industrializados fabricados por lá e tinham dívidas com eles.
Napoleão então reagiu e as tropas francesas invadiram Portugal. Não restou outra saída para a família real a não ser abandonar Lisboa. Foi no Palácio da Ajuda, Dom João escreveu para os seus súditos comunicando essa decisão e pegou todo mundo de surpresa.