A família do vereador suspeito de matar o menino Henry é uma das mais influentes da política do Rio. Uma relação que envolve a milícia que domina grande parte da cidade. As informações são do Jornal da Band.
Com quase duas décadas de vida pública, Doutor Jairinho, principal suspeito de matar o enteado Henry, trilhou um caminho conhecido na política.
O médico, que nunca exerceu a profissão, chegou à Câmara Municipal do Rio de Janeiro em 2004, aos 27 anos, sob a influência do pai, coronel Jairo. Policial militar e deputado estadual até 2018, ele é um dos políticos mais poderosos da cidade. Uma influência que envolve relações estreitas com a milícia que domina a zona oeste carioca.
Coronel Jairo foi um dos parlamentares investigados na CPI das milícias em 2008, que pediu o indiciamento de mais de 200 pessoas acusadas de envolvimento com as milícias do rio - entre PMs, militares do exército e policiais civis.
No documento final da CPI, o coronel Jairo foi citado como um dos líderes da maior milícia do Rio na época, a “Liga da Justiça”. O grupo começou a expandir seu domínio da zona oeste para outras partes do Rio, como a região metropolitana e baixada fluminense.
Atualmente conhecida como "Bonde do Ecko", a antiga Liga domina em quase 60% da cidade. As milícias tomam territórios, exploram os moradores com taxas, como luz e internet, e cria as próprias leis.
“Boa parte desses territórios foram urbanizados pelos próprios milicianos, que não só grilaram [ocupação de área] aquelas terras loteadas, mas construíram, cobram taxas sobre os moradores, sobre os comércios e impõe um mando naqueles territórios quem envolvem homicídios, ameaça, tortura e toda sorte de violações dos direitos civis e humanos”, explica a socióloga Carolina Grillo.
Em seu primeiro mandato como vereador do Rio, em 2004, o filho do então deputado coronel Jairo foi o mais votado do partido, o PSC. No ano passado, Jairinho foi um dos mais votados na Câmara Municipal. Em 17 anos de parlamento, já passou pela comissão de educação e foi vice-presidente da comissão de saúde.
Além da ligação com grupos paramilitares, a família de Jairinho também manteve laços estreitos com outros políticos, como os ex-governadores Sérgio Cabral e Luiz Fernando Pezão, em esquemas criminosos. Em 2018, coronel Jairo foi um dos deputados presos na operação Furna da Onça, que investigou o esquema de propinas pagas por Cabral a deputados aliados.
O relatório do do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) apontou movimentação atípica de cerca de R$ 10 milhões em contas de servidores do gabinete do coronel.
Depois da morte de Henry, Jairinho fez ligações para políticos para acelerar burocracias no Instituto Médico Legal. O parlamentar queria que a tese de que a criança passou mal e morreu fosse confirmada. Uma dessas ligações foi para o governador em exercício Cláudio Castro, que teria informado ao vereador que a delegacia responsável iria investigar o caso.
Suplente de Doutor Jairinho, Marcelo Diniz Anastácio, é presidente da Associação de Moradores da Muzema. Ele também é investigado por ligação com a milícia que atua na zona oeste do Rio.
Preso junto com a mãe de Henry, Monique Medeiros, Jairinho ainda não perdeu o mandato, mas já teve o salário de cerca de R$ 20 mil suspenso e foi afastado do Conselho de Ética da Câmara dos Vereadores do Rio, em decisão unânime. A partir do 31º dia de afastamento, a Câmara pode dar início ao processo de cassação do mandato de Jairinho.