A crise diplomática entre Brasil e Israel deve ser um dos temas do encontro entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) com o secretário de Estado americano, Antony Blinken, que vem ao país para participar de uma reunião de chanceleres do G-20, no Rio de Janeiro.
O tema deverá ser tratado nesta quarta-feira (21). O assunto é classificado como delicado porque Blinken é judeu, e o padrasto dele é sobrevivente do Holocausto. O secretário de Estado participa de negociações para um cessar-fogo na guerra entre Israel e o Hamas, na Faixa de Gaza.
Perguntado sobre as declarações de Lula, o porta-voz do governo de Joe Biden, em Washington, disse que não acredita que haja um genocídio em Gaza, que quer ver o conflito terminar para que os civis palestinos tenham assistência humanitária e que o governo americano não concorda com os comentários do líder brasileiro.
Repercussão no Congresso brasileiro
A crise diplomática também entrou de vez na agenda do Congresso. O presidente da Comissão de Relações Exteriores do Senado, Renan Calheiros, da base do governo, convidou o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, para falar sobre o atrito, provocado pela declaração de Lula ao comprar o Holocausto às ações de Israel em Gaza.
Na Câmara, a oposição se mobiliza em busca de apoio para um pedido de impeachment de Lula, sob alegação de crime de responsabilidade. São necessárias pelo menos 171 assinaturas, mas o encaminhamento da solicitação também depende do presidente da Casa, Arthur Lira (Progressistas), que não tem prazo para tomar qualquer decisão.
Convocações de embaixadores
O embaixador brasileiro em Israel, Frederico Meyer, foi convocado por Lula para retornar para o Brasil, num gesto de reação ao governo de Benjamin Netanyahu. O Itamaraty considera que ele foi humilhado ao ser chamado para prestar esclarecimentos num evento público, no Museu do Holocausto, em Jerusalém, fora da tradição diplomática nesses casos.
Na segunda-feira (19), o embaixador de Israel no Brasil, Daniel Zonshine, foi convocado pelo ministro Mauro Vieira, que classificou a reação do governo israelense como inaceitável. Depois da reprimenda, em caráter privado, o diplomata saiu sem dar declarações.
Chanceler de Israel vs Lula
Nesta terça-feira (20), o ministro israelense das Relações Exteriores, Israel Katz, usou as redes sociais, num texto em português, para cobrar novamente uma retratação de Lula. Por enquanto, a posição do governo brasileiro é a mesma, sem pedido de desculpas.
Logo depois, o ministro Paulo Pimenta (PT), da Comunicação Social, respondeu. Acusou Katz de distribuir conteúdo falso atribuído a Lula. Segundo o brasileiro, Lula condena o massacre da população civil de Gaza, promovido pelo governo de Netanyahu.
Sete centrais sindicais também divulgaram nota em apoio a Lula. Afirmam que o presidente defende a vida, a paz e a soberania dos povos.