Com o passar do tempo, novos usos para o óleo da cannabis passaram a ser revelados por pesquisas médicas. No terceiro capítulo da série especial do Jornal da Band sobre o medicamento, esta reportagem mostra como a substância ajuda a aliviar sintomas de doenças incuráveis, como o Alzheimer.
É o caso de Beatriz Panelli, de 88 anos, acometida pelo Alzheimer há 11 anos. A doença é degenerativa, ou seja, com o passar do tempo, mais funções vitais são comprometidas. No entanto, com esta personagem, a história foi diferente, pois ela apresentou significativa melhora na qualidade de vida após três anos de uso do cannabidiol.
Eu fiquei superfeliz quando ela começou a voltar às atividades do caça-palavras, do baralho (Ana Cristina Panelli, filha da Beatriz)
“Trazem equilíbrio ao corpo”
Para o médico ouvido pela reportagem, os canabinoides – substâncias que ativam os receptores canabinoides – levam equilíbrio ao corpo. Por isso, a importância da cannabis na medicina.
“Quando a gente começa a olhar quais são as indicações dos canabinoides, como para epilepsia, ansiedade, depressão, transtornos do movimento, Parkinson, tremor essencial, sintomas relacionados ao Alzheimer, déficit de atenção, a impressão que dá é que aquilo que serve para tudo não serve para nada. Isso não é uma verdade sobre os canabinoides. Eles agem trazendo equilíbrio ao corpo”, pontuou o médico Pedro Pierro
Luta contra crises epiléticas
Outras personagens desta reportagem são as pequenas Isabela e Isadora, ambas na luta contra convulsões, já que uma tem paralisia cerebral, enquanto a outra é autista. Uma delas, inclusive, chegou a ter 98 crises num único dia.
O óleo à base da maconha surge como última alternativa da mãe para aliviar as epilepsias das filhas. O tratamento com a cannabis é feito há três anos.
Na verdade, eu nem sabia que maconha e cannabis eram a mesma coisa. Eu acho, assim, que é ignorância. Do mesmo jeito que a cannabis libertou as minhas filhas da epilepsia, de toda essa questão, me libertou dessa ignorância. O conhecimento é tudo, né? (Andrea Rodrigues, mãe de Isabela e Isadora)
Até antes do tratamento, Isadora nem falava, mas, agora, já aprende a escrever e perdeu a timidez. A Isabela começa a dar os primeiros passos.
Conseguir o medicamento no Brasil
Por se tratar de uma matéria-prima proibida no Brasil, só há três formas de conseguir remédios à base de cannabis, legalmente:
- compra em farmácias, entre os 25 produtos liberados pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), com uma receita de uso controlado acompanhada da declaração de responsabilidade assinada pelo médico e paciente;
- importação com prescrição médica e autorização da Anvisa; e
- por meio das associações.
Combate ao preconceito
Em São Paulo, existe a Associação de Apoio e Pesquisa Cannabis Cura (Accura), de iniciativa educativa sobre a cannabis no tratamento de males.
“Uma coisa que a gente precisa deixar claro é que tanto o THC como o CBD ou CGB, todos os cannabinoides, são medicinais. Tudo depende do caso do paciente e dessa relação médico-paciente. Existem algumas pessoas que podem uma sensibilidade maior ou menor a um canabinoide, assim como pessoas têm sensibilidade à aspirina e podem acabar tendo um prejuízo sério de saúde. Nada é para todo mundo”, pontuou Ian Guedes, coordenador-geral da Accura.
O acesso a remédios como esse esbarra num obstáculo muito grande: o preconceito. Há médicos resistentes à prescrição, mesmo com tantos estudos clínicos e científicos, casos de sucesso e evidências.
Como a gente combate o preconceito? Trazendo esse diálogo, debate, evidências científicas. A gente não tem compromisso com o erro, pois queremos o melhor para o paciente (Dr. Pierro)
Outras reportagens da série
A série sobre cannabis do Jornal da Band também já mostrou que, apesar do preconceito, a adesão aos remédios derivados da maconha aumenta no Brasil. Veja as reportagens que já foram ao ar abaixo!