Thiago Brennand desembarcou no aeroporto internacional de Guarulhos, em São Paulo, na tarde deste sábado (29). Ele foi levado para o Departamento da Polícia Federal no bairro da Lapa, zona oeste da capital. Neste domingo (30), o acusado passará por uma audiência de custódia e levado para o Centro de Detenção Provisória de Pinheiros.
Do luxo e a riqueza nas redes sociais as capas e manchetes dos noticiários policiais de todo o país. Em menos de um ano, a verdadeira personalidade de Thiago Brennand veio à tona. Um passado recente de violência sexual e agressões, principalmente contra mulheres.
Thiago Brennand estava preso desde o dia 17 de abril em Abu Dhabi. O setor de inteligência da polícia dos Emirados Arabes agiu rápido quando teve a informação de que Brennand pretendia fugir para a Rússia, onde tem ele tem amigos e morou antes da pandemia.
A extradição de Brennand foi autorizada pelo governo dos Emirados Árabes na semana passada. Ele fugiu do Brasil no final do ano passado e chegou a ser preso em Abu Dhabi, mas pagou fiança e continuou no país.
No último dia 17, agentes da polícia do país árabe prenderam o agressor em um hotel de luxo, onde ele estava morando. As acusações contra Brennand surgiram depois da divulgação de um vídeo em que ele agride uma mulher.
Só nos últimos meses, a Justiça brasileira decretou cinco prisões preventivas contra o acusado. Entre as vítimas, estão ex-namoradas, o próprio filho que o acusa de agressão e funcionários do dono de uma herança de quase R$ 500 milhões.
Thiago Brennand deve aguardar julgamento atrás das grades. A defesa promete recorrer da decisão das cinco preventivas, mas, segundo especialistas em direito penal, a tendência é de que, ele permaneça preso diante das graves.
Testemunhas ouvidas pela polícia reforçaram as acusações de violência sexual, ameaça, cárcere privado e tortura.
Brennand também era um colecionador de armas. Recentemente, a polícia de São Paulo apreendeu um arsenal de guerra que era do acusado: fuzis, metralhadoras, pistolas e muita munição.
Nos últimos meses, duas investigações foram reabertas, uma em Porto Feliz, interior de são Paulo e outra, na zona sul da capital. Duas delegadas foram afastadas das investigações que apuram acusações contra Brennand em casos de estupro, cárcere e agressão. Os processos correm em segredo de Justiça.
Quem é Thiago Brennand?
Thiago Brennand é herdeiro brasileiro que virou réu por lesão corporal e corrupção de menores. Filho do cofundador de uma rede médica do Recife, ele tem 42 anos e é citado também em denúncias de estupro, cárcere privado, tortura e de forçar mulheres a tatuar as iniciais dele.
Brennand se tornou alvo de novas acusações feitas por um ex-funcionários a um programa de reportagens de televisão. Segundo o homem, com quem trabalhou por 15 anos, Brennand batia e dava choques no filho.
Em 2020, o adolescente acusou o pai de agressões com cabides, galhos de árvore e fio de carregador de celular. À época com 14 anos, o jovem prestou o depoimento na Delegacia de Polícia de Crimes contra Criança e Adolescente de Pernambuco.
Dias depois, o próprio filho deu novo depoimento negando o inicial e classificando a denúncia como "um ato de rebeldia." O caso foi arquivado. Brennand ficou conhecido após ter sido filmado agredindo a modelo Helena Gomes dentro de uma academia de luxo na cidade de São Paulo, em agosto do ano passado.
Ele virou réu por agressão e, em decorrência do processo, entrou na lista vermelha da Interpol, organização internacional de investigação criminal.
Com a repercussão, outras 11 denúncias de crimes como estupro, lesão corporal e cárcere privado tornaram-se públicas. Brennand é acusado ainda de corrupção de menores por ter instigado seu filho a ofender a modelo agredida na academia.
Após entrar na lista da Interpol, Brennand foi preso em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, em outubro de 2022. Foi solto horas depois após pagar fiança e apresentar endereço na cidade.
Fortuna
A fortuna de Thiago Brennand é estimada em R$ 200 milhões, segundo advogados e familiares.
Exclusão de testamento
O pai, José Aécio Fernandes Vieira, registrou no ano de 2019, em cartório, um documento público onde relata o receio de ser vítima de uma morte suspeita, citando e-mails com ameaças feitas pelo próprio filho.
Aos 82 anos, Vieira atualizou seu testamento e manifestou ainda o desejo de deserdar Thiago. O documento está em poder do MP-SP na investigação das outras denúncias.
A mãe, Joana Fernandes Vieira, registrou documento semelhante manifestando o desejo de deserdar o filho. Entre as alegações estão as agressões "de forma reiterada, explícita e pública, pessoalmente e através de emails" causadoras de "insuportável nível de sofrimento" e a "absoluta inexistência de qualquer afinidade" entre eles.
Agressão ao filho
Em 2020, Brennand foi acusado de agredir o próprio filho, de quem tem a guarda e que na época tinha 14 anos. Levado pela mãe à Delegacia de Polícia de Crimes contra Criança e Adolescente de Pernambuco, o adolescente relatou uma série de maus tratos por parte do pai, como agressões com cabides, galhos de árvore e fio de carregador de celular.
Dias depois, o próprio filho deu novo depoimento negando o inicial e classificando a denúncia como "um ato de rebeldia."
O caso foi arquivado. Na denúncia do MP-SP a promotoria destaca a presença do filho de Thiago na academia e os xingamentos proferidos contra a modelo pelo menor, induzidos pelo pai.
Pedido de prisão preventiva
Em outubro de 2022, a Justiça decretou prisão temporária ao acusado por crimes de estupro, cárcere privado e tortura contra uma mulher na cidade de Porto Feliz, interior de São Paulo.
Nessa denúncia, Brennand é acusado também de obrigar a mulher a tatuar suas iniciais - o tatuador autor do serviço foi denunciado por tortura e lesão corporal gravíssima.
Com a denúncia apresentada pela promotoria da cidade paulista, Brennand responde por estupro (cinco vezes), cárcere privado, tortura, lesão corporal de natureza gravíssima, coação no curso do processo, constrangimento ilegal (três vezes), ameaça (quatro vezes), registro não autorizado da intimidade sexual e divulgação de cena de estupro ou sexo (oito vezes).
Ameaças
Em vídeo postado no Youtube e posteriormente apagado, mas replicado por outras contas, Thiago Brennand diz ser inocente e alvo de uma perseguição. O herdeiro afirma que as pessoas "não sabem com quem estão mexendo" e que o processo "é uma farsa para prejudicar um cidadão de quem vocês morrem de inveja."
"Branco, heterossexual inegociável. Armamentista, óbvio. Conservador, sempre", completa o acusado.
A mensagem inclui ainda ameaças ao MP-SP e cita um "estado de exceção" para justificar sua "prisão ilegal." O vídeo foi republicado por outras contas na plataforma.
Não foi a primeira ameaça ao Ministério Público, relata a juíza Erika Soares de Azevedo Mascarenhas na decisão que pediu a prisão preventiva dele, em setembro. Brennand queixou-se da grafia errada de seu nome em e-mail enviado à magistrada: "V.Exa. escreveu meu nome de maneira triplamente errada, tão errada que aparenta ter sido propositadamente errada", diz o réu na mensagem.
Para a juíza, "a ousada postura adotada pelo réu evidencia sua predisposição a coagir terceiros e a interferir no regular trâmite da ação penal, o que reforça a necessidade de se decretar sua prisão preventiva".
Colecionador de armas
Dono de um verdadeiro arsenal, Brennand teve seu registro de colecionador (CAC) suspenso pelo exército no último mês de setembro, após a Polícia Civil realizar uma operação de busca e apreensão em sua casa, na cidade de Porto Feliz (SP).
A ação foi decorrente do processo sobre as agressões à modelo na academia. Nas redes sociais, Brennand se gabava de ser o maior colecionador de armas táticas da América Latina.
Ostentava luxo na web
Thiago Brennand ostentava luxo e armas antes da repercussão da agressão dentro da academia em São Paulo e das demais denúncias.
Carros importados, cavalos e charutos eram temas comuns em seu perfil no Instagram. Embora tenha reduzido o uso das redes, à época da prisão em Dubai, postou uma foto do presidente e candidato à reeleição Jair Bolsonaro em sua conta.
Em postagem mais antiga, Brennand celebrou a vitória judicial do ator Johnny Depp contra a ex-mulher, Amber Head. Depp ganhou a causa e Head foi condenada a indenizá-lo por difamação, após publicar artigo relatando violência doméstica no "The Washington Post".
Viagem ao exterior
Embora alegue que não está fugindo, Brennand deixou o Brasil horas antes de ser denunciado pelo Ministério Público, no dia 4 de outubro. A volta estava prevista para o dia 18/10, mas agora ele aguardará o processo de extradição em um hotel de luxo na capital dos Emirados Árabes Unidos.