É fato que a diversidade de raça e gênero vem aumentando nas empresas. Mas a inclusão fica de fora dos cargos de liderança.
Na busca por emprego, o preconceito deixou marcas.
“Entregava o currículo na mão da pessoa, ela me agradecia, e quando eu virava as costas eu ouvia o barulho do papel sendo amassado e sendo jogado na lata de lixo”, conta a auxiliar de apoio administrativo, Ana Maria de Lima.
Ana Maria não tem dificuldades para executar as tarefas do escritório. Difícil é a falta de reconhecimento.
“Você encontra pessoas com deficiência hoje que tem mestrado, tem doutorado, mas está como operacional, como administrativo. Porque as empresas não dão oportunidade de crescimento. As pessoas precisam entender que pessoas com deficiência podem ocupar cargos de gestão”, diz.
Negros, mulheres e a comunidade LGBT+ também enfrentam obstáculos para alcançar postos de liderança.
“Conforme esses cargos vão subindo, essa diversidade vai desaparecendo. Você tem que começar a olhar no detalhe, nas áreas, porque não adianta eu ter três áreas cheias de mulheres e no front, em áreas core da companhia, nenhuma, porque estrategicamente você não traz voz para essa mulher”, explica a fundadora da CMI Business Transformation, Maristella Iannuzzi.
A discriminação fica mais evidente quando olhamos para o topo das grandes empresas. Um levantamento da B3, a bolsa de valores do Brasil, analisou a cúpula de todas as 343 companhias listadas. Em cerca de 90%, não há pessoas negras na direção nem nos conselhos de administração.
Erick é CEO de uma usina de aço no Ceará. Ele comanda mais de dois mil funcionários.
“Teve oportunidade de eu crescer dentro da empresa, de estar como líder da empresa. É óbvio que eu entendo que eu sou uma exceção, mas a gente trabalha justamente para que isso não seja mais uma verdade, que eu não seja mais uma exceção. A diversidade e inclusão, além de ser uma questão social, é questão de trazer resultado para a gente”, explica o CEO da unidade de Pecém da ArcelorMittal.
E dá retorno mesmo. Um estudo internacional mostra que empresas com diversidade na gestão são mais lucrativas. A inclusão de pessoas negras em cargos de liderança aumenta em 35% a probabilidade de lucro acima da média. Com mais mulheres na chefia, o impacto é de 21%.
Tatiana ocupa um cargo de direção de uma multinacional e ainda passa por situações desconfortáveis.
“Eu fui receber um prêmio, duas pessoas levantaram, eu e uma pessoa que trabalhava na empresa há 40 anos e na hora de entregar o prêmio, estavam indo entregar o prêmio para pessoa, que tem 40 anos de casa e que é homem, porque eles não imaginavam, com aquelas duas pessoas levantando, que a Tatiana nova e mulher que era diretora né”, disse.
A executiva contou com apoio da empresa, por meio de programas de mentoria e acompanhamento para alavancar lideranças femininas.
“O primeiro ponto é investir na capacitação na conscientização dos empregados e da liderança da importância desse tema. O segundo ponto é estabelecer metas e o terceiro ponto é ter ações práticas”, disse.
Se a empresa não sabe como fazer, pode pedir ajuda. Leizer Pereira já deu consultoria sobre diversidade para mais de CEM companhias brasileiras
“A primeira coisa é um princípio simples: é a empresa acreditar que existem pessoas prontas e preparadas, pessoas negras, mulheres. Para ocupar qualquer tipo de posição. Porque tem esse mito de que essas pessoas não existem. Elas existem”, explica a CEO do Empodera.