Diretas Já, o movimento que mudou a história do Brasil, está fazendo 40 anos, e a mobilização nacional e o papel decisivo da Band, que furou um bloqueio do regime militar e foi a primeira emissora a transmitir ao vivo um dos grandes comícios. Era a senha para que outras tvs fizessem a mesma coisa.
Os grandes comícios pedindo eleições diretas para a presidência da República foram a primeira grande mobilização contra o regime militar. Mais de 5 milhões de pessoas em todo brasil saíram às ruas para exigir Diretas Já.
A estratégia do governo foi tentar esconder os protestos. Pressionou emissoras de rádio e TV para não noticiarem em rede nacional o que acontecia. Quando o Jornal Bandeirantes transmitiu imagens do comício da sé, para todo brasil, furou o bloqueio. José Augusto Ribeiro era comentarista de política da Band.
“Os telefones não paravam de tocar”, relata José Augusto. “Era gente cumprimentando a Bandeirantes e perguntando se ia transmitir no jornal de fim de noite. E eram colegas de outras televisões pedindo "por favor, repitam, que estamos convencendo as chefias aqui a permitir o comício".
Já nos jornais de fim de noite todas televisões estavam transmitindo aqueles trechos e outros trechos do comício que a Bandeirantes foi a única a transmitir ao vivo.
A Band pagou um preço alto pela coragem de desobedecer a ditadura.
O ex-deputado federal Domingo Leonelli lembra como o então presidente João Baptista Figueiredo reagiu: “Isso custou à Band o seu canal em Brasília. O general Figueiredo chamou João Saad na sala dele, disse assim: 'Olhe, João, tá vendo isso aqui? Isso aqui é a autorização para o canal da Band em Brasília'. Figueiredo pegou, rasgou e jogou no lixo na frente de João Saad, que se limitou a dizer: 'Essa é a sua decisão, presidente. Me dê licença.' Foi uma atitude muito corajosa, muito digna para o jornalismo brasileiro. A Band passou a cobrir toda a campanha”.
Na última semana de governo, o presidente Figueiredo mudou de posição e assinou a concessão da Band em Brasília.
Comícios
No Rio, na Candelária, o comício reuniu um milhão de pessoas. Um dos discursos mais emocionantes foi do jurista Sobral Pinto, que defendeu presos políticos.
Miro Teixeira destaca: “O que mais me impressionou foi a multidão. Não havia ônibus colocados à disposição. Não havia lanches. O que mais me impressionou foi aquela paz. E no final, inacreditável, aquela multidão cantando o hino nacional. Agora dá vontade de chorar”.
O maior de todos comícios aconteceu no Vale do Anhangabaú, em São Paulo. Reuniu 1,5 milhão de pessoas. Naquele dia a capa do jornal da tarde foi histórica. Uma capa pôster.
“O Jornal da Tarde contratou um fotografo, fotografou esta passeata de cima”, relata o jornalista Ferdinando Casagrande, que escreveu um livro sobre a história do Jornal da Tarde. “Aí o Fernando Mitre, que era editor-chefe, abriu o jornal ocupando a primeira e a última página com uma enorme foto, o logo do jornal, e mais nada.
A atriz Esther Góes relembra: “Era um mar de gente, você não via o fim. Um mar amarelo, uma coisa majestosa, grandiosa, inesquecível”.
- Produção: Paula Marolo e Bia Moço
- Edição: Claudia Castro e Alziro Oliveira
- Coordenação: Sergio Gabriel
- Direção de núcleo: Fernando Mattar