Os brasileiros unidos na construção de uma nova era, um novo Brasil. O deputado federal Dante de Oliveira era a pessoa certa, na hora certa. Dante tinha 32 anos. Era um deputado em primeiro mandato quando em março de 1983 conseguiu as assinaturas necessárias para apresentar uma emenda propondo eleições diretas já para presidente na sucessão do general João Baptista Figueiredo. A emenda nasceu discreta, mas se transformou numa ideia que catalisou o desejo da sociedade brasileira.
O ex-deputado federal Domingos Leonelli conta: “A oposição não tinha uma bandeira popular. A proposta de Dante era muito inteligente, uma proposta do meio, com o tipo de política que o eleitor conhece, com eleição direta”.
O jornalista Oscar Pilagallo lembra que 1983 foi um ano basicamente de articulação. ”O Ulysses Guimarães foi a pessoa que começou a fazer isso, convenceu os seus próprios correligionários do PMDB”, explica: “E, na sequência, outros partidos aderiram, como o PT, o PDT de Leonel Brizola. E aí com a ajuda dos governadores de oposição que tinham sido eleitos no final do ano anterior, você começou a ter uma força política estruturada para inclusive bancar aqueles grandes comícios, que certamente custavam dinheiro.
“Isso inclusive foi alvo de críticas na época: ‘Como é que você vai usar dinheiro público para coisas políticas’, e aí se dizia, ‘Não, mas está usando o dinheiro público em defesa da democracia, você quer uma maneira mais nobre de se usar o dinheiro público que defender um regime democrático?"
O primeiro comício
O primeiro comício pelas Diretas aconteceu numa pequena cidade na Região Metropolitana de Recife: Abreu e Lima, no dia 31 de março de 1983. Reginaldo da Silva e Severino Farias foram dois dos quatro vereadores do PMDB que organizaram o ato. “Acho que não passou de cem pessoas”, lembra Reginaldo. “Ainda havia muito receio, muito medo. ”
Foi o medo que impediu que imagens fossem registradas. “A gente convidou o fotografo na época e ele disse que não vinha por um boi nem por um carro porque ele tinha medo. Seu Raimundo dizia: ‘Vou ser preso’”, relata Severino.
Mas a crise econômica e o cansaço com os militares no poder estimularam o povo a ir para a rua e vencer o medo da ditadura.
Em junho de 1983, o primeiro comício em capital reuniu 5 mil pessoas. Aconteceu em Goiânia, organizado pelo PMDB.
Foi em frente ao estádio do Pacaembu que aconteceu o primeiro comício em São Paulo. Era novembro de 1983.
O deputado do PT Eduardo Suplicy estava na Praça Charles Miller. Ainda longe do espirito suprapartidário que marcaria o movimento, era um comício comandado pelo PT. Reuniu 15 mil pessoas.
“Foi sobretudo o PT com outros partidos da oposição que convocaram o comício”, lembra Suplicy.
O jornalista Ricardo Kotscho destaca: “Ali misturou manifestação a favor da Nicarágua, o movimento contra a carestia e as Diretas. Tudo junto no mesmo balaio”.
A campanha deslanchou para valer no dia 25 de janeiro de 1984, na Praça da Sé. Naquele dia os principais líderes políticos da oposição estavam juntos no palanque.
Leonelli afirma: “Pela primeira vez eu ouso dizer que era uma campanha onde o povo foi o principal protagonista. O povo não foi usado para ir as ruas, o povo decidiu ir às ruas.”
Band transmitiu comício
A Band foi a primeira emissora a transmitir ao vivo um comício das Diretas Já em rede nacional. Jose Augusto Ribeiro era o comentarista de política no Jornal Bandeirantes, apresentado por Joelmir Beting e Ferreira Martins. Havia uma pressão muito grande do regime militar para que o comício não fosse noticiado, mas João Saad, presidente da Band, decidiu não aceitar a ordem que vinha de Brasília.
“Era para dizer que todo aquele movimento em São Paulo eram festejos do aniversário da cidade. Todas emissoras obedeceram, menos a Bandeirantes”, lembra José Augusto Ribeiro. “Essa transmissão desmoralizou a censura.”
- Produção: Paula Marolo e Bia Moço
- Edição: Claudia Castro e Alziro Oliveira
- Coordenação: Sergio Gabriel
- Direção de núcleo: Fernando Mattar