Os megacomícios que pediam eleições diretas para a presidência da República foram a primeira grande mobilização popular contra a ditadura militar no Brasil. Mais de 5 milhões de pessoas, em todo o país, saíram às ruas. O movimento ficou conhecido como “Diretas Já”.
A estratégia do governo versou na tentativa de esconder os protestos. O regime pressionou emissoras de rádio e TV para não noticiarem, em rede nacional, o que acontecia. Quando o Jornal Bandeirantes transmitiu imagens de um comício na Sé, no Centro de São Paulo, para todo Brasil, furou o bloqueio. José Augusto Ribeiro era comentarista de política da Band.
Os telefones não paravam de tocar. Cumprimentavam e perguntavam se a Bandeirantes transmitiria o comício no jornal de fim de noite. Colegas de outras televisões pediam: "Por favor, repitam o negócio do comício, que estamos convencendo as chefias a permitirem o comício”.
Já nos jornais de fim de noite, todas as televisões exibiam aqueles trechos do comício que a Bandeirantes foi a única a transmitir ao vivo. Por outro lado, a emissora pagou um preço alto.
“O general Figueiredo chamou João Saad à sala dele. Disse assim: “Olhe, João! Está vendo isso aqui? Isso aqui é a autorização para o canal da Band, em Brasília”. Pegou, rasgou e jogou [a autorização] no lixo, na frente de João Saad”, relembrou o ex-deputado constituinte João Leonelli.
Na última semana de governo, o presidente Figueiredo mudou de posição e assinou a concessão da Band em Brasília.
Candelária lotada
No Rio de Janeiro, na Candelária, 1 milhão de pessoas lotaram o Centro da cidade. Um dos discursos mais emocionantes foi o do jurista Sobral Pinto em defesa de presos políticos.
“O que mais me impressionou foi a multidão. Não havia ônibus colocados à disposição. Não havia lanches. O que mais me impressionou foi aquela paz. No final inacreditável, aquela multidão estava cantando o Hino Nacional. Agora dá vontade de chorar”, disse o ex-deputado e ex-ministro Miro Teixeira.
Vale do Anhangabaú
O maior de todos os comícios aconteceu no Vale Do Anhangabaú, também no Centro de São Paulo. O evento reuniu 1 milhão de pessoas.
Naquele dia, a capa do Jornal da Tarde foi histórica. Na época, o jornalista Fernando Mitre, então editor-chefe do periódico, abriu a primeira e última páginas com uma enorme foto da passeata, o logo do veículo e mais nada.
Isso aqui era um mar de gente. Era gente que você não via o fim. Era um mar de amarelo, uma coisa majestosa, grandiosa, inesquecível (Esther Góes, atriz)