Cada religião interpreta o mal de uma forma, e o Diabo também. No segundo episódio da série especial “Mas Que Diabo”, Giba Smaniotto explica como cada religião explica a figura do ‘mal encarnado’ e como ele é evitado pelo Brasil.
Na Igreja Católica, ele é personificado no Diabo, mas não foi ela quem criou a imagem dele, como explica o padre Rodrigo Hurtado, diretor do Instituto Católico de Liderança. “O Demônio existe antes que nós, antes que a criação, não personificamos o mal, ele de fato existe e a Sagrada Escritura nos ensina isso”, diz.
Ele é tão presente na Igreja Católica, que o batismo é uma forma de exorcismo, porque apaga a mácula do pecado original. E a cruz? “É justamente a forma de afastar o demônio”, explica o filósofo Andrei Venturini Martins.
Para os evangélicos, o Diabo é um pouco diferente, como diz o pastor Edson Rebustini, da Igreja Bíblica da Paz. “A função dele é de enganar, iludir, criar o mal, fazer o mal para as pessoas, com que elas pensem que ‘Deus não as ama'”, afirma e relembra as palavras do monge responsável pela reforma protestante.
Martinho Lutero falava que o Diabo nada mais é do que um cachorro na coleira segurada pela mão de Deus, porque Deus dá um limite para o Diabo agir, diz.
Romildo Ribeiro Soares, da Igreja Internacional da Graça de Deus, neopentecostal, afirma que o Diabo “é um derrotado”. “Está escrito em 1 João 3:8: ‘Para isto o filho de Deus se manifestou: para destruir as obras do Diabo’. Estão destruídas, você não tem que ter medo", pontua.
No pensamento de Santo Agostinho, um dos principais teólogos do cristianismo, o demônio é aquele que vive tentando a gente. “Agostinho diz que o homem não só se ama, mas ele ama ser amado. Isso mostra, da repetição do próprio pecado cometido por Lúcifer, que quis ser como Deus, da estatura de Deus, amado como Deus”, diz Andrei Venturini.
Exu leva fama de Diabo por preconceito
No Santuário Nacional da Umbanda, em Santo André, muitas oferendas são deixadas aos orixás. Na religião, Jesus Cristo é Oxalá. E é nela que Exu também é cultuado, um orixá que atende os pedidos das pessoas e também ajuda os que cultuam a se livrarem de energias negativas.
Ronaldo Linares, presidente da Federação Umbandista do ABC e Babalaô, explica mais sobre Exu. “Ele não é o Diabo cristão, ele não tem essa característica. Ele é um elemento mágico, desde que você lhe dê o necessário, Exu atende o que você pede, qualquer tipo de pedido”, explica.
Para a cientista social e Ialorixá Flávia Pinto, Exu levou fama de Diabo por conta do preconceito. “Na nossa filosofia não existe, não reconhecemos essa categoria. Mas infelizmente o domínio euro cristão, proveniente da escravização de corpos negros, fez com que nos associasse à figura do Diabo, que nos satanizasse", diz.
Em outras religiões, Diabo não existe
Em algumas religiões e vertentes não há a figura do Diabo, mas há o que remeta ao mal. O hinduísmo reconhece que pessoas podem fazer algo ruim, já o budismo tem ‘Mara', o oposto de Buda. No judaísmo, satã é o que impede algo de acontecer.