Mesmo proibido, remédio abortivo tem venda escancarada na internet, clínicas e até praças

Cytotec, permitido apenas em hospitais, é comercializado indiscriminadamente, causando riscos à saúde das mulheres

Da redação

A proibição do aborto faz com que muitas mulheres, mesmo as que tem direito ao procedimento por lei, entrem em situações que colocam as próprias vidas em risco. A cada dois dias, uma mulher morre por fazer um aborto inseguro no Brasil. Em busca de alternativas para conseguir fazer o procedimento, grávidas buscam até medicamentos proibidos no Brasil. 

Na avaliação de Mariana Pérsia, ginecologista do coletivo Sexualidade e Saúde, a proibição do aborto causa maior procura por procedimentos ilegais. "É uma questão de saúde, não de polícia. Proibir faz com que mulheres façam mais abortos inseguros, não que deixem de realizá-los", diz. 

Uma das maneiras que mulheres buscam realizar o aborto é com medicamentos, como o Cytotec, que no Brasil só pode ser usado em hospitais. O Jornal da Band conversou com uma mulher que realizou um aborto aos 27 anos utilizando o remédio, após ser estuprada pelo próprio marido no dia em que pediu o divórcio. 

"Acabei ficando grávida, daquela forma eu nunca pensei em ter filho nascido de uma violência. Um filho tem que nascer do amor", afirma. A mulher teve dificuldades para comprovar a violência cometida pelo próprio marido, para conseguir um aborto legal. Então, ela recorreu aos remédios. 

Mulheres recorrem a medicamentos para conseguirem abortar | Reprodução/Jornal da Band

"Contei com o apoio das mulheres da minha família, que me ampararam no divórcio e de achar meios para realizar o aborto com segurança. Mesmo assim, tive complicações", conta. A mulher quis evitar problemas com os métodos clandestinos mais conhecidos, como utilizar agulha de tricô no útero ou uso de chás, então ela conseguiu o Cytotec. 

A venda do Cytotec é proibida nas farmácias do Brasil, mas tem venda escancarada na internet, redes sociais e em clínicas clandestinas de aborto. Até pelas ruas e praças públicas é possível comprar o medicamento para o aborto. A produção da reportagem do Jornal da Band conseguiu encontrar um vendedor em São Paulo, onde o comércio acontece livremente. 

O vendedor pergunta de quantos meses a pessoa está e precifica os comprimidos em R$ 1 mil, além de agirem como profissionais de saúde. "Para não afetar o seu organismo eu recomendaria quatro, pode pegar, aplicar e ficar de repouso. O efeito é imediato", disse o vendedor para a produção. 

Para a ginecologista Mariana Pércia, a venda não garante que o medicamento é realmente Cytotec. "Apesar do remédio ser seguro, a pessoa pode comprar uma medicação falsa. Por um tempo existiu uma campanha contra o medicamento e aí as mulheres usaram outras coisas, que podem causar hemorragia, infecções. Precisamos entender que não mudaremos uma prática, sendo o aborto, mas sim reduzir o dano", pontua. 

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