"Faraó dos Bitcoins" usava 60 CPFs para operações ilegais

Para a PF, o esquema continuou mesmo depois da deflagração da operação Kryptos, contra Glaidson Acácio e a GAS Consultoria

Marcus Sadok, do Jornal da Band

Glaidson Acácio dos Santos, um dos donos da GAS Consultoria, usava 60 CPFs para fazer operações financeiras ilegais.

A Band teve acesso às conversas dos integrantes da empresa interceptadas pela Polícia Federal após a deflagração da Operação Kryptus, que prendeu o "Faraó dos Bitcoins", em 25 de agosto.

Michael de Souza Magno, um dos operadores do grupo, diz que não há risco de bloqueio de contas porque os reais são convertidos rapidamente em moedas digitais. Michael admite que envia o dinheiro para o Uruguai e para Malta, que ele mesmo classifica como "paraísos fiscais". O operador também afirma que, em média, R$ 2 bilhões entram por hora na conta da GAS.

Para a Polícia Federal, fica claro que o esquema continuou mesmo depois da deflagração da operação, porque Mirelis Zerpa, esposa de Glaidson e que está foragida, fez os repasses financeiros. A PF identificou uma movimentação de R$ 1 bilhão em moedas digitais da venezuelana, apontada como chefe do esquema ao lado de Glaidson.

Os investigados também afirmaram que Glaidson pretendia enviar o dinheiro para os Estados Unidos, em criptomoedas, e que ele abriria uma igreja no país.

Os integrantes do grupo do “Faraó dos Bitcoins” também indicaram em conversas que Glaidson usava CPF e CNPJ de cerca de 60 pessoas, para disfarçar as operações financeiras suspeitas.

Entre as operações, a PF identificou o envio de R$ 1,7 milhão de reais em uma operação financeira suspeita. Dois moradores da Favela do Lixo, em Cabo Frio, enviaram o valor em dois depósitos para a GAS. As investigações apuram se traficantes repassaram o dinheiro para a empresa de Glaidson.

A PF indiciou Glaidson, Mirelis e mais 20 pessoas por organização criminosa, crime contra sistema financeiro nacional e gestão temerária ou fraudulenta. O Ministério Público Federal agora pode ou não oferecer denúncia contra os acusados, que negam as irregularidades. Já a Polícia Civil do Rio encerrou e repassou aos órgãos federais as investigações contra o grupo, indiciado por pirâmide financeira.

A Operação Kryptos

A GAS empresa teve R$ 38 bilhões bloqueados pela Justiça e deixou de pagar os rendimentos prometidos aos clientes. Um relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (COAF) encaminhado à Polícia Federal aponta que, só nos últimos 12 meses, foram cerca de R$ 17 bilhões movimentados por Glaidson.

Glaidson ficou conhecido como o "Faraó dos Bitcoins", em referência a um esquema de pirâmide financeira, que também é investigado pela Polícia Civil do Rio. As promessas de retorno financeiro sobre o valor investido (10%) eram incompatíveis com a realidade. Por causa disso, a cidade de Cabo Frio, onde a empresa operava, ficou conhecida como "Novo Egito". De acordo com as investigações, a empresa funcionava em um esquema de pirâmide: o investimento de novos clientes alimentava os ganhos dos investidores mais antigos.

Ele era garçom e ganhava R$ 800 reais por mês até se tornar dono da GAS - a empresa de Cabo Frio entrou na mira da polícia depois que R$ 7 milhões foram apreendidos prestes a serem levados de helicóptero de Búzios (RJ) para São Paulo. A investigação foi desencadeada a partir daí, em maio.

Glaidson foi preso em 25 de agosto, na casa dele, em um condomínio de luxo na Barra da Tijuca, na deflagração da operação. Durante a busca, os agentes apreenderam quase R$ 14 milhões em espécie, guardadas em malas, além da maior apreensão de criptomoedas da história do Brasil: aproximadamente R$ 150 milhões em criptoativos. Os agentes apreenderam ainda 21 carros de luxo, relógios de alto padrão e joias. 

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