Fala de março aponta para contradição em versão de diretora da Precisa à CPI

Emanuela Medrades apontou data diferente de envio de invoice de contrato da vacina Covaxin ao Ministério da Saúde

Caiã Messina, do Jornal da Band

A guerra de versões sobre a tentativa de compra da vacina indiana Covaxin pelo governo federal ganhou um novo capítulo com o depoimento desta quarta da diretora da Precisa Medicamentos, Emanuela Medrades, na CPI da Pandemia no Senado nesta quarta-feira (14).

Diferentemente da confusão na sessão da última terça (13), a responsável técnica da empresa respondeu aos questionamentos dos senadores.

“Faço questão de falar tudo. Inclusive, não existe irregularidade, não existe ilegalidade”, disse Emanuela referindo-se às tratativas de sua empresa, intermediária do laboratório Bharat Biotech, com o Ministério da Saúde.

E foi respondendo a todas as perguntas que Emanuela Medrades caiu em contradição. Afirmou que o primeiro invoice, a nota fiscal, foi enviado ao Ministério da Saúde em 22 de março, uma segunda-feira. Mas acabou confrontada com outra declaração dela ao Senado.

“Na quinta-feira passada, nós fizemos os pedidos, encaminhamos os invoices, alguns documentos, temos alguns documentos para serem retransmitidos ao pessoal do Dimp [Divisão de Importação do Ministério da Saúde]”, havia dito a diretora ao Senado em audiência em 23 de março – a data que ela se referiu na fala remete ao dia 18 de março.

“A senhora tinha tanta certeza de que era ‘quinta-feira passada’ que a senhora vai falar ‘sexta’ e retroage e fala ‘quinta’, porque a senhora tem uma boa memória”, ponderou Omar Aziz (PSD-AM), presidente da comissão.

Emanuela disse que “não estava presa às datas” e que estaria disposta a fazer uma acareação com os dois servidores do Ministério da Saúde que afirmaram à CPI que o documento chegou ao departamento de logística no dia 18 de março.

“Eu desafio o William Amorim e o Luis Ricardo [Miranda, irmão do deputado Luis Miranda] a demonstrarem o contrário, porque eu provei e eu provo quantas vezes for necessário”, cravou a diretora.

O deputado Luis Miranda (DEM-DF), que denunciou problemas na compra da Covaxin, afirma que apresentou ao presidente Bolsonaro a nota fiscal com supostas irregularidades no dia 20 de março. Já o governo tenta provar que o documento nem sequer existia na ocasião.

Em relação ao valor da vacina, os senadores apresentaram o memorando de uma reunião entre representantes do ministério, da Precisa e da Bharat Biotech. Neste documento, consta que a dose custaria US$ 10. Mas o contrato foi fechado a US$ 15. Ela disse que o valor menor foi apenas uma expectativa.

“Não houve nenhuma oferta de 10 dólares por dose, e nós, o tempo todo, tentamos que esse produto fosse mais barato para o Brasil”, justificou.

O depoimento não convenceu parte dos senadores. Entre os pontos investigados do contrato de R$ 1,6 bilhão, que acabou suspenso, estão a antecipação de parte do pagamento, a quantidade de doses e o recebimento de dinheiro por um terceira empresa, não mencionada nas negociações.

Mais notícias

Carregar mais