Em depoimento à CPI da Pandemia, Cristiano Carvalho, representante da empresa Davati disse ter sido avisado sobre um pedido de “comissionamento” para negociar doses da vacina AstraZeneca com o Ministério da Saúde.
Porém, Cristiano negou ter participado de um esquema de propina o acordo pelos imunizantes contra Covid-19. Aos senadores, ele disse que o PM Luiz Paulo Dominghetti repassou um pedido de dinheiro feito pelo coronel Marcelo Blanco, ex-assessor do então ministro da Saúde Eduardo Pazuello.
“Não foi o nome propina, tá? Ele usou ‘comissionamento’. Ele se referiu a esse comissionamento sendo do grupo do tenente-coronel Blanco e da pessoa que o tinha apresentado ao Blanco, que é de nome Odilon”, relatou.
Se a compra fosse concretizada e as denúncias forem verdadeiras, o negócio poderia render um suborno de R$ 2 bilhões. O pedido de propina foi denunciado por Dominghetti, que se apresentava como vendedor da empresa americana Davati - intermediária na compra dos imunizantes.
Cristiano disse que conheceu o policial em janeiro deste ano e que nunca deu ao policial a atribuição de procurar o governo. Pelo contrário, segundo ele. Era Dominghetti disse a ele que estava em busca de fornecedores de vacina para o Ministério da Saúde.
Ele também leu mensagens que teriam sido enviadas pelo ex-diretor de logística do Ministério da Saúde Roberto Dias. Segundo Cristiano Carvalho, houve muita insistência de Dias, que o procurou três semanas antes de um jantar que ocorreu em fevereiro em Brasília.
Em depoimento anterior, Dias afirmou o contrário: que não havia falado com a Davati antes do final do mesmo mês. Cristiano Carvalho também diz que, no dia 15 de março, Hérman Cárdenas, presidente da Davati, enviou uma nova proposta de vacinas ao então secretário-executivo do Ministério da Saúde, o número 2 da pasta, Elcio Franco. Os imunizantes seriam da Johnson & Johnson e teriam sido oferecidos quase US$ 100 milhões.
Do governo à oposição, os senadores avaliaram que Cristiano é golpista. Ele mirava fechar um negócio de US$ 1,5 bilhão, sendo que no ano passado recebeu auxílio emergencial.
A partir da semana que vem, a comissão interrompe os depoimentos por causa do recesso do Congresso. A ideia é aproveitar para analisar documentos.
Ricardo Barros (PP-PR), líder do governo na Câmara, vai ser ouvido apenas na volta dos trabalhos, a partir de 3 de agosto. O Supremo garantiu ao deputado o acesso aos dados da CPI em que é mencionado.