Quem caminha pelo principal campus da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), a maior e mais antiga do Brasil, tem a impressão de estar em uma cidade abandonada. A instituição vem, a cada ano, perdendo capacidade de investimento. Com novo corte no orçamento, de cerca de 20%, a reitoria anunciou que não tem como garantir o retorno das aulas presenciais para os cerca de 65 mil estudantes.
"A continuar com esse orçamento não teremos condições de pagar contas básicas como a luz, água, limpeza e segurança. Nós estamos no limite dos níveis de produtividade que o TCU preconiza", diz o vice-reitor Carlos Frederico Leão Rocha.
Segundo ele, o corte no orçamento também vai afetar pesquisas, como as da vacina contra a Covid-19, e o funcionamento de nove unidades de saúde ligadas à universidade. Uma delas, o Hospital do Fundão, tem 100 leitos para pacientes com a doença, que correm o risco de serem desativados.
O problema não é só na UFRJ. Segundo a Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes), o corte de mais de R$ 1 bilhão vai afetar, em diferentes níveis, o funcionamento de todas as 69 universidades federais.
A situação fica ainda mais crítica porque parte da verba já reduzida está bloqueada e depende ainda da votação do Congresso, o que não há previsão.
De acordo com o Painel do Orçamento Federal, neste ano estão livres R$ 2,5 bilhões para as 69 instituições e 1,3 milhão de estudantes. Esse valor é praticamente o mesmo que o orçamento de 17 anos atrás - com os valores atualizados pelo IPCA. No entanto, naquele momento, eram 574 mil alunos e 51 instituições. Por isso, algumas das mais importantes instituições, como UFRJ e Unifesp, já falam em interrupção das atividades a partir de julho.
Os gastos discricionários vão desde as contas mais básicas, como água, luz, limpeza e segurança, a pagamento de bolsas, compra de insumos para pesquisa e reformas prediais. Com um orçamento muito baixo, alunos mais pobres perdem a ajuda que os garante nas universidades, e pesquisas são interrompidas.
Além dos R$ 2,5 bilhões livres, o orçamento das federais também prevê R$ 1,8 bilhão que podem ou não ser desbloqueados ao longo do ano. Caso isso aconteça, os gastos discricionários chegarão ao patamar de 2006, quando o país tinha apenas 54 universidades federais.