Uma música animada escapa pela lona de um circo montado em Guarulhos, na região metropolitana de São Paulo. Há espetáculo?
Há, mas um espetáculo diferente. Durante toda uma manhã neste final de semana, os artistas se apresentaram no picadeiro. Só faltou o público.
Tudo foi gravado e vai passar nas redes sociais do circo. O festival atraiu artistas de outros picadeiros -- como o casal Robert e Laís. Há um ano, os dois acrobatas não se apresentavam.
“A gente fica o tempo todo buscando alguma forma de voltar a trabalhar, mas não é certo”, disse Laís Dantas
O circo foi beneficiado pela Lei Aldir Blanc, que prevê apoio financeiro ao setor cultural. Com o dinheiro, o circense Ramon Moreira ergueu a lona, fez algumas reformas necessárias e pagou os artistas.
“Dá uma injeção de ânimo, né? Acho que não é só o financeiro. Isso movimenta a alma do artista”, disse ele.
Thiago Giellin é malabarista -- a terceira geração da família no circo. Este sábado (8) foi dia de reencontro com o circo e com o palco. Chegou nervoso para fazer o que sempre fez.
“Não é a mesma coisa de você estar treinando em casa, não tem como fazer uma apresentação perfeita”, explicou.
E não tem sido fácil se equilibrar. O pagamento pelo trabalho com o artista, o primeiro e mais em mais de um ano, já tem destino certo.
“Não tem compra em casa, então tenho que passar agora no mercado e fazer uma comprar para levar para minha casa”, acrescenta Giellin.
Para quem vive do público, não tem jeito: cadeira vazia é mesa vazia. Mais de um ano depois do começo da pandemia no Brasil, o setor cultural ainda enfrenta todas as dificuldades trazidas pelo fechamento das atividades.
A esperança está nas leis de incentivo à categoria. Mas até o acesso a elas às vezes é difícil.
O casal Val e Moreira vive do encontro. Os músicos participavam de apresentações e festas, principalmente nas comunidades mais carentes na periferia de São Paulo.
“No projeto cultural, onde a gente tinha um espaço, tivemos que fechar, porque não conseguimos pagar aluguel, nem água, nem luz”, lamenta Moreira. “Alguns editais disseram que iam cuidar disso, mas na verdade, na hora de se enquadrar, nunca se enquadra.”
Só no estado de São Paulo, em 2020, 63% das empresas do setor cultural pararam as atividades. No último mês, o governo paulista disponibilizou uma linha de crédito para micro e pequenos empreendedores culturais. São R$ 50 milhões.
“Quase 4% do PIB do estado advém dessas atividades. Portanto, para o governo do estado, é extremamente importante apoiar esse segmento”, explicou Christiano Braga, coordenador da Secretaria Estadual de Cultura.
O que não cabe em conta alguma é a importância da arte na travessia desses tempos tão difíceis. Por isso, Luiz Gustavo da Silva, que é farmacêutico, escolheu por oficio do coração o riso. Na folga da rotina, vira palhaço. Saudoso dos aplausos de outros tempos.
“Falta do calor humano, do sorriso, das crianças... Faz muita falta.”