Pegamos a estrada ainda de madrugada, e logo as dificuldades aparecem. Uma delas, achar combustível. Uma fila gigantesca de carros foi criada num posto. Agora, a venda é racionada.
Estamos botando R$ 100 por pessoa, somente em dinheiro. Vai acabar rápido. Não tem previsão para chegar, por enquanto (Jardel Elias Flores, frentista)
Na fila, encontramos Beatriz e Darci, sem rumo, sem saber aonde ir. Sobrou o carro e nada mais.
O nosso bairro, que é o das indústrias, acabou. Não tem mais o que fazer. Já trabalhamos a vida toda para ter o que tem e, hoje, nós não temos mais nada. É triste (Beatriz Lurdes Pastoriza, desabrigada)
A região do Vale do Taquari é uma das mais devastadas. Isso porque muitas cidades foram inundadas na cheia de setembro de 2023. Agora, quando a população começava a se reerguer, o pesadelo voltou e numa força ainda mais assustadora.
Bairros sumiram do mapa
Na cidade de Estrela, cinco bairros sumiram do mapa. Foram dizimados. Não há luz, água nem internet há uma semana.
Depois que a água do Rio Taquari abaixou, as famílias encontraram um cenário de terra arrasada. Praticamente, não restou uma única casa de pé. No Bairro das Indústrias, onde funcionavam fábricas, tudo foi destruído.
O dono de uma fábrica de ração perdeu todo o maquinário. O prédio também ficou em ruínas. Os 30 funcionários que trabalhavam no local serão demitidos. Não há esperança de um recomeço.
Foram 22 anos de trabalho. Esse é o resultado final. Tudo acabou. Estamos sem chão. Já chorei demais. Não consigo mais chorar agora (Daniel Sulzbach, dono da fábrica de ração)
Escola destruída
Em muitos lugares a gente só consegue chegar a pé. O que era a principal rua de um bairro virou um local tomado por muito lixo, mato e raízes de arvores que foram reviradas. Numa escola onde 150 crianças estudavam, o parquinho ficou enterrado.
A mesma escola foi atingida pela enchente do ano passado. As aulas foram retomadas há pouquíssimo tempo. Agora, o pátio, a biblioteca, as salas de aula ficaram tomados pela lama.
Desabafo de quem perdeu tudo
Na enchente passada, uma casinha amarela, visitada pela nossa equipe, serviu de abrigo para dezenas de pessoas. Agora, a estrutura está condenada. Maria Salete vivia na região há 35 anos. Desolada, passou a manhã com os filhos sentada no que antes era um quintal.
“Ontem, eu tinha tudo. Hoje, não tenho nada. É o que resta, não só para mim, para todos os moradores, toda a cidade, toda a comunidade, para o nosso Vale do Taquari todo”, disse Maria Salete, emocionada.