
Depois da denúncia da Procuradoria Geral da República, o ministro Alexandre de Moraes retirou o sigilo da delação de Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro, que embasou parte da investigação da Polícia Federal.
Segundo Cid, Bolsonaro conversou com militares sobre uma minuta de golpe para impedir a posse do Presidente Lula. Ele diz que o ex-presidente estimulava a expectativa de população para provocar uma ação que justificasse a intervenção das Forças Armadas. O ex-ajudante de ordens afirmou que participou de reuniões em que militares discutiam uma possível intervenção.
Ainda na delação, Mauro Cid disse que Bolsonaro determinou o monitoramento da rotina do ministro do Supremo Tribunal Federal, Alexandre de Moraes, para verificar se ele e o vice Hamilton Mourão estavam mantendo encontros secretos. Conforme a delação, o ex-presidente se referia a Moraes com o codinome “professora”.
O militar também disse que o desejo de ruptura institucional “foi um dos motivos pelos quais o então presidente Jair Bolsonaro não incentivou a desmobilização das pessoas acampadas na frente dos quartéis”. O ex-ajudante citou um vídeo do ex-ministro Braga Netto conversando com manifestantes.
A delação também aponta que o ex-ajudante recebeu dinheiro no Palácio da Alvorada do ex-ministro Braga Netto. Segundo ele, os valores foram repassados para Rafael Martins de Oliveira, tenente-coronel e integrante do grupo “kids pretos”.
Cid relatou que ele e seu pai, o general da reserva Mauro Lourença Cid, repassaram US$ 78 mil a Jair Bolsonaro entre 2022 e 2023 após a venda de joias recebidas pelo então presidente.
Segundo Mauro Cid, Jair Bolsonaro pediu para fraudar o cartão de vacinação dele e da filha. Ainda de acordo com a delação, a ordem foi para inserir dados falsos dele e da filha. Segundo a delação, o objetivo com o cartão falso era facilitar os tramites para viagens internacionais.
Relembre o caso
A PGR descreveu, em 272 páginas, o que o procurador Paulo Gonet definiu como “uma trama conspiratória armada e executada contra as instituições democráticas”. O Ministério Público usou como base os 10 meses de investigação da Polícia Federal, a delação premiada do ex-chefe de gabinete de Bolsonaro, Mauro Cid, e apreensões de celulares e computadores.
No relatório, Paulo Gonet escreve: a organização tinha por líderes o próprio presidente da República e seu candidato a vice-presidente, o general Braga Netto. Ambos aceitaram, estimularam e realizaram atentado contra o bem jurídico.
De acordo com o procurador, o objetivo da trama golpista era que Jair Bolsonaro não deixasse o poder, ou retornasse ao cargo pela força, ameaça ou exercida, contrariando o resultado apurado da vontade popular nas urnas.