O centro histórico de São Paulo está passando por um grande projeto de revitalização da prefeitura. A região sofre com a degradação, que se agravou na pandemia. Mas existe exemplo de quem resistiu. Exemplo que dá esperança para a recuperação.
Não é preciso muito. Basta desacelerar o passo, erguer o olhar e logo surge uma nova cidade. Ora são linhas retas a cruzar o céu de concreto, ora são as linhas ondulantes da arquitetura Art Nouveau a cortar a concretude das paralelas. O centro de São Paulo, tão maltratado, tão esquecido, tão a cara desse Brasil empobrecido, segue lá, altivo, delicado, bonito que só ele.
“São Paulo da garoa, outro poeta falou. Tu és a minha metrópole, minha musa, minha canção. Tu és a melodia que eu toco no meu violão. Tu és aquela musa que me deu inspiração”, diz o poete e garçom Vavá do Bixiga.
Vavá tem saudades de um tempo em que o centro era a alma boêmia e artística de uma cidade em profunda transformação, e de certa forma, menos desigual que a de hoje.
“Hoje é um centro que você não pode circular à noite mais que nem eu circulava naquela época, eu vinha duas, três da manhã, comer sopa aqui na Avenida São João, Avenida Rio Branco. Hoje eu não posso fazer mais isso que nós corremos perigo, né”, completou Vavá.
“Eu imagino que como a maioria das pessoas quando percorre centro, dá uma tristeza, uma revolta de ver a precariedade, as condições em que as pessoas estão lá, mas como urbanista eu sei que isso não foi falta de uma política urbana, mas presença de uma política urbana, de uma política social que construiu esse quadro. As pessoas que os estão numa situação absolutamente degradante e degradante tem que ser objeto de política de acolhimento”, afirma a urbanista Raquel Rolnik.
Um dos reflexos desse abandono no centro são as lojas fechadas. Cada vez mais falta vida no centro.
Como o resto do Brasil, o centro da maior cidade ao sul do Equador sofreu de forma profunda com a pandemia. Há mais desalentados pelas ruas. Há mais sujeira. Há menos dinheiro para reparar as coisas belas. Mas, elas resistem.
São Paulo tem dessas coisas. No meio dessa confusão toda, no meio desse caos urbano, tem uma pequena joia escondida no centro da cidade, uma mercearia que foi fundada em 1888.
“E você também está no primeiro arranha-céu de São Paulo, o prédio que a casa Godinho está instalada é o primeiro arranha-céu da cidade, conhecido como o avô dos arranha céus”, diz Miguel Romano, proprietário da Casa Godinho.
Espremida entre prédios e lanchonetes que alimentam os novos operários paulistanos, a Mercearia Godinho sobrevive às mudanças dessa cidade há mais de 130 anos.
“O coração de São Paulo, uma das maiores capitais do mundo, largado às traças como você está vendo hoje, uma coisa lamentável. Lisboa, que até pouco tempo atrás vivia uma situação semelhante à nossa, o que é Lisboa hoje? É um espetáculo! É só isso, é cuidado”, explicou Miguel Romano.
Uma nova geração de empresários aposta que o futuro está exatamente na diversidade econômica e social da região central da cidade.