O aumento dos casos de depressão, bulimia, automutilação e até suicídio entre os adolescentes desde a disseminação das redes sociais fez Camila Bruzzi e outras mães agirem. O Movimento Desconecta, formado por pais preocupados com os efeitos do celular e das redes sociais nos filhos, propõe adiar o uso pelas crianças.
"A intenção é fazer um acordo entre as famílias para a gente adiar a entrega do celular até os 14 anos. E acesso às redes sociais até 16 anos", diz Camila Bruzzi. A ideia é válida, já que psicólogos e pediatras alertam para os malefícios do uso indiscriminado do celular por menores de idade.
A psicóloga Rosely Sayão faz uma comparação para indicar os riscos de liberar o celular sem controle. "Você deixa seu filho sozinho na Praça da Sé? Não deixam. E por que deixar ele sozinho na internet? É o mesmo", diz.
Para o pediatra Daniel Becker, a tecnologia pode causar isolamento nas crianças. "Elas perdem justamente as habilidades que elas ganhariam no mundo real, físicas, mentais e de relacionamento. Elas precisam do outro para se desenvolver, para desenvolver habilidades como comunicação, autoconhecimento, empatia, negociação, resolução de conflito, solução de problemas. Enfim, tudo isso né e elas não estão desenvolvendo essa habilidade", pontua.
A estratégia de convencimento dos filhos passa pela adesão dos pais, que também diminuem o uso dos celulares. A ideia é que o filho não se sinta excluído sem o celular. "Entendo que estiver dois só numa sala de 30 não vai ser fácil. Mas se tiver a metade, meio a meio, é outra conversa", pontua Camila Bruzzi.
Carla Cavalheiro Moura, psicóloga no Hospital das Clínicas, atende famílias que sofrem com a dependência das telas. Ela afirma que a proibição é muito radical e que é preciso ter acordos para limitar o uso de telas.
"A questão da proibição eu não sou a favor, eu sou a favor de fazer uma construção crítica de quando você retira as telas de crianças e adolescentes, colocando no lugar?", pontua.
Apesar dos malefícios, Carla defende que a internet pode ser benéfica às crianças. "A internet em aspectos ruins da tecnologia, onde essa criança está exposta a um monte de perigos, práticas perigosas. Mas tem um monte de coisa importante, legal, interessante para o desenvolvimento desta criança", indica.
Mas na casa de Juliana, os filhos não têm celulares, nem redes sociais. "O mundo é um lugar vasto demais para você largar uma criança sozinha. Na hora que você dá o celular, você tá deixando essa criança sozinha no mundo, e o mundo tem coisas incríveis e tem coisas bastante perigosas, que eu acho que uma criança ainda não está apta para dar conta sozinha", pontua.
O filho de Juliana, José, diz que foi difícil no começo, já que os amigos tinham celulares com acesso às redes sociais, mas entende atualmente a mãe. "É como se minha mãe me deixasse sozinho no metrô. Pode aparecer uma senhora e me ajudar a chegar até em casa ou pode aparecer alguém ruim e fazer algo que não deve ser feito", diz.