Jornal da Band

Caso Abin: PF chegou a pedir suspensão do mandato de Ramagem, mas Moraes negou

Investigações apontam que Abin, sob a gestão de Alexandre Ramagem, monitorava adversários de Bolsonaro, o que inclui Alexandre Moraes e Gilmar Mendes

Da redação

A Polícia Federal acusou o deputado federal Alexandre Ramagem - aliado e amigo da família Bolsonaro - de ser o chefe de uma organização criminosa que espionava ilegalmente autoridades e adversários do Bolsonarismo.

Agentes realizaram buscas no gabinete de Ramagem na Câmara. O presidente da Casa, Arthur Lira, foi avisado pelo ministro da Justiça, Flávio Dino. Apreensões foram feitas ainda no apartamento funcional e na casa do deputado, no Rio de Janeiro. Seis celulares e quatro notebooks foram recolhidos nos endereços, dois deles patrimônio da Abin. A PF também cumpriu mandados em Juiz de Fora e São João Del Rei, em Minas Gerais. 

A Polícia Federal pediu a suspensão do mandato de Ramagem, mas o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo, que autorizou a operação, não atendeu.

Além do deputado, sete policiais federais e três servidores da Agência Brasileira de Inteligência foram alvos da operação. Eles são suspeitos de monitorar, de forma ilegal e sem autorização judicial, políticos, jornalistas, advogados e adversários durante a gestão do ex-presidente Jair Bolsonaro. Ramagem foi diretor da Abin de 2019 a 2022.

Em outubro do ano passado, em outra operação, a Polícia Federal prendeu agentes da Abin acusados de usar ilegalmente o software first mile, para monitorar e perseguir ilegalmente pessoas através do sinal de celular.

Na lista das autoridades que teriam sido monitoradas, segundo a PF, estão os ministros do STF, Gilmar Mendes e Alexandre de Moraes. Em um relatório, os investigadores citam que encontraram uma tentativa de associar os dois com o PCC, alimentando a difusão de fake news contra os ministros.

Para Moraes, há evidências de que o monitoramento ilegal teria sido feito por ordem de Alexandre Ramagem para interferir em investigações da PF. Rodrigo Maia, presidente da Câmara nos primeiros anos do governo Bolsonaro, a então deputada Joice Hasselmam e a promotora responsável pela apuração do assassinato da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes foram vigiados. O então governador do Ceará e atual ministro da Educação, Camilo Santana, também foi monitorado sem autorização judicial.

Segundo a Polícia Federal, houve ainda interferência em investigações contra os filhos do ex-presidente, Flávio e Jair Renan Bolsonaro.

O senador Flávio Bolsonaro descreveu como mentirosa e absurda a alegação de favorecimento a ele, o que entende ser uma tentativa de atacar a família.

Alexandre Ramagem foi chamado para prestar depoimento na Polícia Federal. O deputado foi procurado pela reportagem, mas não retornou. Ele é pré-candidato à prefeitura do Rio de Janeiro pelo PL.

O presidente do partido, Valdemar Costa Neto disse, numa rede social, que a operação é uma perseguição por causa do ex-presidente Jair Bolsonaro e que esse negócio de ficar entrando em gabinetes é uma falta de autoridade do presidente do congresso, Rodrigo Pacheco, que deveria reagir e tomar alguma atitude.

Em entrevistas, Costa Neto ainda chamou Pacheco de frouxo e omisso.

Rodrigo Pacheco respondeu em uma nota, acusando Costa Neto de usar a política para ampliar e obter ganhos com o fundo eleitoral e que o presidente do PL não é capaz de organizar a oposição para limitar as decisões monocráticas do STF."

Na noite desta quinta-feira (25), Ramagem negou a existência de uma estrutura paralela de espionagem na Abin. Também afirmou que não tinha controle completo sobre a agência e que não pediu para que servidores usassem o programa First Mile. O deputado ainda informou que não prestou depoimento à PF porque não foi intimado oficialmente.

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