Capim dourado, o “ouro do cerrado”, mantém tradição quilombola viva no Tocantins

Comunidade Mumbuca tem o dom da arte feita com capim dourado, usado para a confecção bolsas, lustres, bandejas, potes, chapéus e tantos outros itens

Da redação

O Jalapão vai além das paisagens naturais deslumbrantes. Bem pertinho do Parque Estadual do Jalapão está uma das mais tradicionais comunidades quilombolas do Brasil, a Mumbuca. Lá, a recepção é acalorada e com muita música.

A comunidade Mumbuca foi fundada por negros escravizados libertos e ascendentes de escravizados que migraram do sertão baiano e se instalaram na região.

Com o tempo, houve a miscigenação com indígenas da etnia Xerente, que deu nome à comunidade. Na língua indígena, “mumbuca” significa "abelha azul", uma espécie comum na região.

“Aqui na comunidade, eu faço uma aproximação de que more uns 200 e poucos artesãos, pessoas, famílias. De famílias, acho que têm 70, 80 famílias. De moradores, estamos chegando a quase 300, mas ainda não têm 300 aqui”, disse Rayane Ribeiro, presidente da Associação da Comunidade Mumbuca.

Uso do capim dourado

A comunidade tem um dom muito especial, a arte feita com capim dourado. São bolsas, lustres, bandejas, potes, chapéus e outros itens trançados de forma habilidosa.

Os fios de capim dourado nascem perto das árvores de buriti, uma espécie típica do cerrado. A tradição do artesanato surgiu no começo do século XX e persiste há gerações.

“Isso aqui é o capim dourado, que é o ouro da vereda. A minha bisavó, dona Laurinda, aprendeu a fazer a primeira peça, a costurar com o capim dourado. A minha avó, dona Miúda, aprendeu, valorizou a arte e passou para as filhas. Hoje, aprendi com minha mãe, filha dela. Minhas filhas já estão aprendendo comigo”, compartilhou a lavradora Daldivina Ribeiro da Silva.

Escambo com capim dourado

Foi nas mãos de dona Miúda que o chamado "ouro do cerrado" ganhou fama. A partir disso, itens feitos com a fibra passaram a servir de moeda de troca. Os quilombolas faziam escambo dos itens por outras mercadorias.

“Achou lindo demais. Pediu para eu trocar o chapéu a troco de outras coisas. Eu troquei. Ele falou que a gente não precisava mais levar dinheiro nem alimentos para trocar coisas daqui, que ele queria era o capim dourado”, continuou Daldivina.

Atualmente, a comunidade vive do turismo, da venda do artesanato e da agricultura. É história e tradição guardadas no coração de um paraíso brasileiro, onde há uma comunidade construída na força e na valorização do trabalho, principalmente das mulheres.

Reportagem anterior

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