Brasil volta ao mapa mundial da fome

Reportagem especial mostra como foi o caminho do País para retornar ao mapa da fome da ONU

Da Redação, com Jornal da Band

“Eu sei o que é passar fome”, diz a auxiliar de limpeza Camila Lima O. Ferreira, desempregada. “Eu e meu marido, muitas vezes a gente deixa de comer para dar para as crianças.”

“Está sendo difícil. Eu tenho que viver ultimamente de bico. E bico não é aquela coisa garantida que você pode contar todo mês. É aquele negócio: você coloca alguma coisa no seu armário, mas quando tira alguma coisa, você já fica pensando onde vai arrumar para colocar de novo”, afirma o cozinheiro Ricardo dos Santos, também desempregado.

Os depoimentos de ambos mostram o que é atestado por dados da ONU (Organização das Nações Unidas): o Brasil voltou ao mapa mundial da fome.

“Nós estamos hoje vivendo com um momento de extrema emergência. O mapa da fome da ONU é um mapa-múndi criado no início deste século para mostrar para todos, de uma forma gráfica, os países do mundo onde existe fome. Então, todos os países do mundo onde a fome está acima de 5% da população, o país começa a ter uma cor um pouquinho mais escura”, explicou Daniel Balaban, diretor do Programa Mundial de Alimentos da ONU.

“O Brasil, desde o início deste processo, ele apareceu no mapa da fome, saindo do mapa da fome – ou seja, a cor dele ficou clara a partir do ano de 2014, devido a inúmeras políticas públicas que os governos brasileiros tiveram ao longo dos últimos anos”, acrescentou.

“Infelizmente, agora, o Brasil já está com mais de 5% da população em situação de insegurança alimentar nutricional, fazendo com que, nos próximos mapas da fome das Nações Unidas, o país volte a figurar entre os países com fome acima de 5% da população.”

Quem engrossa a estatística sofre.

“É uma situação meio complicada, vergonhosa. Você trabalha tanto, corre tanto, e no final do dia, você não tem o que colocar dentro de casa. Então, fica vergonhoso, mais pelas crianças”, diz o cozinheiro Ricardo, com 20 anos de cozinha. “Parece que a gente no tempo primitivo. A gente tem que caçar um dia antes para poder comer depois.”

Se não tiver comida, ele diz, engole a vergonha e pede emprestado. “Deixar faltar para os meus filhos, eu não deixo, não.”

“Eu sempre mexi com comida. Aí a comida faltar na minha mesa, isso dói demais”, completa.

Salvar vidas é prioridade

Daniel Balaban, da ONU, diz que “em momentos de emergência, em momentos de crise, nós devemos nos preocupar em salvar vidas”. 

“Organizar o orçamento, ter um orçamento equilibrado, é extremamente importante. Todos os países do mundo, agora, em momento de crise, momento de emergência, estão voltados para salvar vidas. Então, estão investindo recursos públicos no salvamento de vidas”, explica.

“Depois vem a questão orçamentária, o equilíbrio orçamentário. Os números podem aguardar, as estatísticas podem aguardar. Infelizmente, as vidas, não.”

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