Depois da viagem do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) a Argentina, surgiu um debate sobre o uso do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). O governo deve investir dinheiro num gasoduto entre a Patagônia e o Rio Grande do Sul ou deveria aplicar nas estruturas daqui?
A Band ouviu especialistas sobre o tema. Antes de apresentarmos o resultado das entrevistas, é importante entender que a demanda pelo gás disparou, assim como o preço, pois chegou a subir cinco vezes e até ultrapassou o valor do petróleo.
O gás, responsável por gerar energia para casas, fábricas e veículos, por exemplo, virou o assunto da vez devido à viagem de Lula à Argentina. No país vizinho, ele disse que tem intenção de financiar, via BNDES, parte do novo gasoduto argentino que exportaria combustível para cá.
O Brasil investiria cerca de R$ 3,5 bilhões na parceria com a Argentina. Mas será que esta é a melhor forma de garantir o abastecimento por um preço menor? Para responder, é preciso entender como funciona o mercado de gás brasileiro.
Atualmente, o Brasil extrai gás suficiente do “pré-sal” para atender a demanda local. Por outro lado, falta gasoduto aqui para levar toda a produção do mar para a terra. Devido a isso, parte do combustível é “devolvido” aos poços em alto mar.
Gasodutos no Brasil
Para o presidente da Associação Brasileira das Empresas Distribuidoras de Gás Canalizado (Abegás), Augusto Salomon, é preciso priorizar o investimento em gasodutos no Brasil.
“Hoje, o preço do gás está neste patamar porque a demanda mundial está alta. No Brasil, a gente teria condição de ter um gás mais competitivo, visto que esse gás é um gás associado, então, teoricamente, teria muito mais valor na produção do óleo do que do próprio gás, mas a gente precisa desenvolver infraestrutura. Não adianta fazer um gasoduto da Argentina para Brasil sem desenvolver estrutura local”, disse Salomon.
Economista defende parcerias
O economista Álvaro Bandeira acredita que o Brasil precisa investir na parceria com a argentina, desde que haja garantias consistentes, e na estrutura local para distribuir o gás produzido aqui.
“Eu acho que tem que olhar para os dois lados. Você pode, aqui, fazer parcerias, mas é importante olhar também para os nossos parceiros comerciais, Argentina, Uruguai, Chile. São Parceiros bons de se ter, desde que a gente trabalhe com boas garantias”, analisou o economista.
Números prévios do setor, em 2022, indicam que, dos cerca de 250 milhões m³ extraídos por dia, no país, pouco mais da metade foi devolvida ao solo. É um recorde negativo. Em nível internacional, a média de reinjeção é de 20%.
Especialista cobra infraestrutura local
Uma nova rota de escoamento, que deveria ter sido concluída ano passado, está com cinco anos de atraso. Pior! Nem saiu do papel. Para especialistas, investir no Brasil garantiria um gás mais barato do que o importado da argentina, que faz a extração do xisto, uma forma mais complexa e cara.
“Ele chega a ser o dobro do custo da exploração em terra e 50% maior da exploração do mar. No final do dia, você aumenta o preço para o consumidor final. Se o Brasil pudesse atender 100% da demanda doméstica, com produção doméstica em terra, o preço seria muito menor. Com certeza, poderia praticar preços muito mais baixos, no Brasil, se eu resolvesse os gargalos de infraestrutura”, analisou Bruno Pascon, co-fundador CBIE Advisory.